A educação popular e o ENEM 2020: adiar sem recuar

Geral, Opinião

Texto: Nlaisa – coordenadora do Curso Pré Vestibular do CEASM (CPV)

Foto: Vanessa Américo

Há muitas informações, pensamentos, debates e perspectivas quando o assunto, em meio a uma pandemia, é o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

É preciso repensar nossas estratégias para lidarmos e tentarmos uma readaptação das atividades cotidianas diante das problemáticas que vieram de encontro com um dos pilares da nossa sociedade: a Educação. O Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) tem enfrentado, em cada um de seus projetos, desafios para a realidade que nos cerca.

E como estamos a todo momento nos cercando de pessoas que acreditam na luta coletiva e solidária, pensar em cada estudante que vive e sente a desigualdade social e o descaso do poder público é entender que estamos muito longe de apoiar somente o adiamento de uma prova que por si só já é excludente. Diante do cenário verticalmente colocado a nós pelo MEC sobre as opções de datas para o adiamento e realização da prova, manifestamos apoio à data colocada em Maio, mesmo entendendo que ainda assim é irrecuperável o impacto de estarmos há 4 meses tentando construir maneiras de resistir a todos os caos que se instauraram como agravantes no meio educacional.

Nossa perspectiva pensa em cada educande que não tem condições e acessos à nova realidade que foi colocada, composta por aulas online, atividades à distância, uso intenso de internet, etc. Lidamos ainda com problemas como instabilidade emocional e psíquica, as complexidades da estrutura de cada família e moradia, o desemprego.

Atualmente o Brasil ocupa a 7ª posição no ranking da desigualdade de renda, conforme aponta o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O ensino remoto é incapaz de atender 39% dos domicílios brasileiros que ainda não têm acesso à internet, segundo dados do IBGE, além dos que não possuem equipamentos eletrônicos como tablets, smartphones ou computadores.

Aderir ao adiamento não significa que estamos de acordo com o gerenciamento da exclusão que se constrói de forma velada ao dar uma falsa sensação de que até maio conseguiremos recuperar todos os danos que sofremos historicamente e foram intensificados nessa pandemia.

Evidenciamos nosso compromisso na educação popular com a emancipação de cada educande apesar de todas as contradições de manter essa prova. Por uma questão de bom senso, empatia e justiça, lançamos essa nota-reflexão com intuito de ampliar o debate, construir diálogos e não permitir que nos valemos enquanto tivermos vida para lutar,  já que lidamos com sonhos e nossas realizações se fazem também quando cada pessoa, em todas as situações aqui comentadas, deseja entrar e ocupar lugar nas universidades públicas.

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