A importância da cultura popular

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Entrevista com Mano Teko, Apafunk. http://apafunk.blogspot.com.br/
No curto bate papo, ele fala sobre a importância da cultura popular, sobre a indústria cultural e sobre o que deve ser feito para que um dia a cultura seja de todos e todas.
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1 – O que você tem a dizer sobre a chamada cultura ‘comercial’?
Não curto ver cultura ser tratada como um produto descartável. E é assim que a maioria trata, então tento entender e aprender pra lidar com isso. Ainda em processo.  Meu som é Funk, que foge às regras comerciais. Ou fala de bunda ou não toca. Melhor, ou fala de bunda e assina com a gente, ou não toca. Por essas e outras vemos um sucesso no funk hoje durar 3 meses. E depois literalmente some. Por essas e outras dificilmente vão ouvir meu som ou de outros tantos na programação de qualquer rádio. Sem grana do jabá, também não rola. Então atrofia-se um movimento. E é algo que não se prende só ao Funk. Se vermos as playlists das principais rádios, vemos um rodízio de dez, quinze artistas ou menos até nas “mais tocadas”.
2 – Ter acesso à cultura é algo caro? 
Com certeza. Eu na minha adolescência, por exemplo, curtia baile funk na favela mais próxima. Era de graça, só garantia a verba pra passagem de ida, já que não tinha ônibus na volta. Os anos se passaram e pouca coisa ou nada disso mudou. Morador de Irajá, subúrbio, vejo pouca coisa acessível e as que tem, não há identificação dos moradores, como a biblioteca de Irajá ou a Lona Cultural mais próxima que fica no bairro ao lado, Vista Alegre. A molecada sequer sabe a respeito. Vai além do financeiro.
3 – Você já deixou de ir a teatro, comprar livros, ver um filme por causa do valor?
Sempre. Teatro, até bem pouco tempo tinha como algo elitista, não me via. Até conhecer teatro da periferia, mais especificamente Cia Marginal da Maré. Então era algo que também não tinha acesso. Livros, só a pouco enfim me identifiquei. Graças aos saraus, achei minha linguagem, literatura divergente. Produções independentes, com custo acessível. Antes, na maioria, mas bem poucos livros religiosos.
 4 – Por que o acesso à cultura ainda não é um direito de todos? O que deveria ser feito para que esta pluralidade cultural chegasse aos mais variados públicos?
Sou a favor de Atividades Culturais de fácil acesso a população em geral. Claro, sendo plural a toda a cidade e não como é feito a tempos, centralizado na Zona Sul. Quando se fala em projeto, lembro edital, secretarias, lei de incentivos, empresas, grandes estruturas… E burrocracia. Uma série de coisas que empaca o processo. Se não fosse isso, mais a vaidade ou jogo de interesses, as coisas fluiriam bem melhor.
Identifica-se os agentes culturais, potencializa, cria-se uma rede de circulação,… Isso é possível sem gastar milhões, sem impor cultura, rola identificação. Tem que rolar identificação e a nossa cultura precisa ser reconhecida como ela é por toda a sociedade.
5 – Como é ter que reafirmar a cultura popular todos os dias como cultura, já que ela por muitas das vezes – por ser das camadas mais pobres – é até considerada um crime? Qual é o seu papel como Mc?
Hoje mais experiente, sei bem meu papel em todo processo. Principalmente pelo movimento na qual faço parte. Dizer que sou Mc, Funkeiro, Flamenguista, Negro, Candomblecista e Suburbano gera as mais diversas expressões nos lugares por onde passo. Ir pra rua e fazer uma roda de funk tem esse caráter, falar à todos. Mostrar que o funk é muito mais do que a mídia apresenta. Que temos deveres sim, mas direitos também. E o mais importante nesse processo é como nós, agentes culturais, podemos incluir, mexer e literalmente sacudir. A cultura é assim, você pode falar nada com nada, mas também pode falar uma palavra que atinge a pessoa em cheio. E a faz refletir, se identificar. Golaço, aos 43 do segundo… essa é a sensação quando acontece.
 Por Gizele Martins, O Cidadão

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