Após copa e ocupação militar, política das remoções chega a Maré

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Como você reagiria, caso acordasse cedo, por volta das 6 horas da manhã, e não visse mais sua residência, seu terreno, o sonho da casa própria, construído com muita luta e trabalho destruído? Com uma escavadeira passando por cima de tudo? Pois foi o que aconteceu hoje, na “Salsa e Merengue”, uma das 16 favelas que compõem a Maré.

Segundo relato dos próprios moradores, já com o dia amanhecendo, militares da força de ocupação da Maré chegaram com mandado de desocupação do terreno, onde mais de 80 famílias construíam suas casas a pelo menos 4 meses. Algumas casas já estavam sendo erguidas, com laje inclusive, outras em fase de fundação.

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Tudo à baixo / Foto Lucas Pessoa

Jeane Cipriano, 34 anos, dona de casa e mãe de cinco filhos, dois deles gêmeos e especiais, um com microcefalia (doença neurológica caracterizada pelo tamanho muito pequeno da cabeça em relação à idade ou ao sexo do bebê ou da criança) e outro com colostomia (quando o intestino fica exposto no abdome, se utilizando de uma bolsa) não sabe o que fazer. “Estava construindo a três meses, gastei mais de treze mil reais com material e mão de obra, e agora está tudo no chão”, contou Geane.

Eliane do Nascimento, 40 anos, não conseguiu chegar ao local cedo, moradores e amigos, sabendo de seu estado emocional, pediram para ela não ver o que estava acontecendo, mas, a tarde , por volta das 13 horas ela não aguentou, e mesmo de cadeira de rodas foi ao terreno, mesmo de longe, impedida pelo cordão de isolamento militar, com os olhos marejados viu sua construção ser destruída, uma das últimas a ser derrubada pela retroescavadeira.

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Jeane à esquerda, junto a Benedita, outra moradora removida, com o documento de posse Foto / Eliano Félix

 

Eliane do Nascimento
Eliane com o mesmo documento de posse em mãos / Foto Eliano Félix

Os moradores que perderam suas casas e terrenos seguiriam hoje para a prefeitura, onde iriam cobrar explicações do prefeito e suas consequentes indenizações, pois segundo os moradores e as associações de moradores, ninguém foi notificado sobre remoção alguma no lugar, e a desculpa da prefeitura seria a construção de uma escola no lugar das casas. Como muitos moradores estavam trabalhando, e nem sequer sabem sobre a desocupação, todos resolveram se reunir hoje à noite, se organizarem melhor, e seguirem para a prefeitura amanhã, quarta-feira, (23).

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Moradores reunidos para decidirem o que fazer / Foto Eliano Félix

Imprensa impedida

Segundo informações, a imprensa foi impedida de chegar ao local para cobrir o que estava acontecendo na “Salsa e Merengue”. As informações sobre a desocupação somente pode ser transmitida pela mídia comunitária local, mesmo assim, até um certo ponto, um cordão de isolamento militar, com tanques, caminhões e soldados impediam a aproximação do terreno.

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Apenas de longe / Foto Eliano Félix

Comentários

5 comments

  • Conheço muito bem a comunidade da Maré, ela foi urbanizada e já estava totalmente consolidada horizontalmente, estas casas foram feitas a pouquíssimo tempo em um campo de futebol e uma praça, a remoção foi correta, pois isso foi uma invasão dentro de uma área de uso comum da própria comunidade. É a mesma coisa se hoje eu chegasse na praça General Osório e começasse a construir uma casa. Temos que acabar de ficar vitimizando os malandros. Em vez de gastar dinheiro subindo parede porque não compra uma casa dentro da própria comunidade.

  • eu só acho um desperdicio de verbas com o exercito podendo usar o dinheiro com outras coisas mais importante são gasto com as tropas 1.700.0000000 por dia isso e falta de respeito com a maré mais fazer o que isso e rio de janeiro isso e brasil

  • É um absurdo.
    Não basta ter as Forças Armadas enquanto os serviços públicos estão as minguas dentro do Conjunto de favelas da Maré. As violações são inúmeras não paro de me perguntar onde estas crianças e suas famílias irão dormir. Moradia é um direito fundamental e se a Constituição fosse cumprida de fato não teríamos o Exército dentro das nossas favelas.
    És aqui o estado de exceção e não será as eleições que mudará isso.

  • A remoção foi certa,essas imobiliárias ficam vendendo terrenos que não vos pertence,é uma especulação danada.O prefeito tem que fazer remoção dentro dos Blocos,as pessoas movidas pela ambição fazem das área internas dos blocos,uma subfavela,tem que demolir dentro dos blocos e plantar árvore e multar quem as derrube.

  • Sou a favor da demolição.Mas tem que haver uma política habitacional ordenada.O prefeito tem que demolir todas essas construções ao longo do valão,as pessoas fazem as casas,daqui há pouco está a placa de venda,pura especulação.E sem contar a imundicie que este valão se encontra deveria ser canalizado e arborizado.

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