Curso de Comunicação Popular: em defesa da comunicação comunitária e popular

Geral

Por Mariana Rio

Não é de hoje que o ativista que se mobilizar em defesa de uma comunicação que atenda às necessidades dos territórios populares. Mas sempre se sofre com a lógica do mercado de comunicação voltado para os poderosos.

O Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) surgiu na década de 90 pelas mãos de um reconhecido jornalista e ex-metalúrgico chamado Vito Gianotti. Ele tinha como objetivo dar voz e incentivar a comunicação de movimentos sociais e sindicatos, que tinham grande dificuldade de dialogar com o grande público e os trabalhadores.

O NPC, como é chamado, desde sua criação oficial no ano de 1997, promove o lançamento de publicações, realiza debates e oferece cursos de comunicação para organizações. Desde 2012, têm a pequena livraria Antônio Gramsci, localizada na Cinelândia. Além disso, todo ano, de forma gratuita, o Núcleo realiza um curso de comunicação popular para os movimentos sociais e público interessado em aprender técnicas de comunicação comunitárias e colaborativas. Sua metodologia foi pensada para atender às demandas e necessidades de qualquer pessoa desde um estudante universitário a um ativista social de pouca escolarização formal.

Turma de 2016 do Curso Vito Gianotti de Comunicação Popular. Foto: Facebook de Claudia Santiago

Aline, de 27 anos, moradora do município de São Gonçalo e professora de sociologia da rede estadual, conta a experiência de ser aluna do curso do NPC de 2016: “Um curso como esse nos dá a possibilidade de produzir algo que é tão necessário existir numa sociedade pautada na desigualdade e na exploração de muitos. Além disso, acho muito ricas as trocas que acontecem entre alunos, professores e demais envolvidos com o curso”.

Para a estudante de Relações Públicas da UERJ e moradora do complexo da Maré, Jeniffer Silva (20), o curso representou um grande avanço na sua formação: “É um dos poucos cursos que abordam e guiam para uma comunicação popular, ajudando a desconstruir a visão que a mídia clássica nos impõe o tempo todo. Quando me inscrevi para o curso, meu objetivo era e é ajudar no meu local de vivência, ser mais participativa e ajudar a fazer uma Maré mais unida, saudável e crítica, pois ajudo no jornal O Cidadão”.

Claudia e Vito Gianotti. Foto: Facebook de Claudia Santiago

Um papo com Claudia Santiago

Qual a sua idade e profissão?
Sou Claudia Santiago, tenho 53 anos, sou jornalista, professora e livreira.

Como foi a criação do curso de comunicação popular?
Em 2004 criamos o curso de Comunicação Popular e começamos a atuar também em comunidades do Rio de Janeiro. Foi construído com a participação de professores de curso de pré-vestibulares comunitários, movimentos de ocupação urbana e grupos que agiam na comunicação em algumas comunidades, como o pessoal do jornal do Ceasm, na Maré, o grupo Alfazendo, na Cidade de Deus e a Frente de Luta Popular (FLP).
De lá para cá as turmas são criadas por indicação de quem fez o curso no ano anterior. Produzimos um jornal anual, vídeos, programas de rádio. No ano passado produzimos um vídeo sobre comunicação popular. Este ano estamos escrevendo um livro sobre o mesmo tema.

Fale-me um pouco sobre o papel da comunicação comunitária na democratização da comunicação
Pela legislação brasileira, um mesmo grupo de comunicação pode controlar jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão e internet. É muito poder para um pequeno grupo de pessoas, não?

Hoje, 45 grupos detêm o controle de 545 veículos. A comunicação comunitária é um fator importante da organização de uma comunidade. É como a comunidade se expressa, se organiza e luta para conquistar direitos que lhe são negados. Então, além de mostrar a vida na comunidade e ser um instrumento de luta, ela pode também denunciar a concentração dos meios de comunicação no Brasil.

Comentários