Documentário sobre advogado ativista é destaque no CCBB

Geral, Notícias

utfTexto por: Tati Alvarenga

Fotos: Divulgação

O jornal O Cidadão está acompanhando a Mostra do Filme Livre (MFL), que aqui no Rio de Janeiro acontece até 5 de abril, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com entrada franca. Dos filmes exibidos, o documentário “Doutor Magarinos, advogado do morro” chamou a atenção da nossa equipe por contar a história do advogado Magarinos Tôrres Filho, que nas décadas de 50 e 60 lutava pelo direito à moradia no conjunto de favelas da Maré, especificamente no Parque União, além do Morro do Borel e da Providência. Entrevistamos a diretora do curta-metragem Ludmila Curi, uma jornalista carioca que em 2013 se entregou ao cinema. Ela fala sobre sua vida, sobre a Maré e justifica porque aceitou dirigir o filme.

A mostra está na 14ª edição e ocorre simultaneamente durante quatro meses em quatro capitais do país: Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte. O espaço é dedicado a filmes independentes, alguns feitos na “guerrilha”, sem recursos, ignorados pela mídia comercial, muitos são inéditos e outros premiados em festivais nacionais e internacionais.A característica geral é: todos são feitos pelo amor à sétima arte, principalmente em seu aspecto documental, mas também muitos filmes de ficção têm seu espaço garantido na mostra.

O.C: Como surgiu a paixão pelo cinema na sua vida?

L.C: Ainda na faculdade de jornalismo, me interessei pelo trabalho no laboratório de vídeo e ali fiz meu primeiro estágio. Quando me formei, entreguei como monografia um documentário. Desse momento em diante fui conciliando minha profissão com a realização de filmes, até que no início de 2013 passei a me dedicar exclusivamente ao cinema. Ao todo, já fiz oito documentários e dois curtas de ficção

O.C: Como você conheceu o Conjunto de favelas da Maré?

L.C:Minha primeira visita à Maré foi em 2010, quando produzia um documentário sobre funk proibido e violência armada. O filme foi lançado em duas versões: uma chamada Grosso Calibre e outra chamada Proibidão.

O.C: Qual é a sua perspectiva sobre a militarização na Maré?

L.C:Sou totalmente contra a presença do Exército. Acho aquele desfile de armas de guerra um desrespeito ao morador. Vejo que os tiroteios estão frequentes e, ao contrário do esperado, gerando mais medo à população. Essa medida não pode ser chamada de pacificação, a meu ver.

O.C: Seu documentário retrata uma história antiga sobre um fato muito atual. O desrespeito aos direitos humanos e moradia na Maré. Situação corriqueira em outras favelas, mas conte porque o interesse em contar a história do Dr Magarinos. magarinos_entrevista

L.C: O  documentário fala sobre o descaso das autoridades públicas do Rio de Janeiro em relação à população pobre e trabalhadora, marginalizada pelo Estado em favelas. Trata de um problema crônico da cidade em que vivemos, olhando especificamente para os casos do Morro do Borel e do Parque União. O filme revela que, desde a época do Magarinos, anos 1950 e 1960, o governo prefere expulsar ou oprimir o pobre do que realmente investir em melhorias nas favelas.

Me interessei em contar a história do advogado do morro após convite dos pesquisadores Rafael Soares Gonçalves e Mauro Amoroso, que me chamaram para dirigir esse filme. Aceitei esse desafio por acreditar na trajetória do personagem como um herói popular, e admirar sua luta pelos direitos da população favelizada.despejo_2

O.C: Qual é o seu objetivo com este filme?

L.C: Meu objetivo é conscientizar as pessoas, tanto a classe média que não conhece a realidade e a luta da favela, quanto o morador de comunidade que não conhece os seus direitos e poderes.

O.C: De “Doutor Magarinos, advogado do morro” ao filme Domínio Público, sendo o primeiro referente a uma cidade do Rio de Janeiro na década 50 e o segundo contemporâneo, em termos de tratamento do favelado pelo sistema, muita coisa permanece igual? O que você acha que mudou?

L.C: Muita coisa permanece igual sim. Infelizmente, eu acho até que piorou. Os serviços públicos como escola e posto de saúde até existem hoje como estrutura em algumas favelas, mas isso não quer dizer que há médicos e professores para atender a população. Como hoje há mais pessoas nas comunidades, a falta de saneamento básico torna esses locais muito mais insalubres. Além disso, o aumento de traficantes e policiais nas favelas criou um cenário de guerra, de conflito iminente, que submete os moradores a riscos de vida frequentes.despejo

O.C: Por favor, Ludmila,deixe um recado para todos os nosso leitores mareenses!

L.C:Espero que os moradores da Maré vejam meus filmes e me digam de alguma forma o que acharam, por email, mensagem ou pessoalmente. Estou muito interessada na opinião de vocês! Podem me escrever para [email protected]

Para você Mareense que não assistiu ao documentário “Doutor Magarinos, advogado do morro”, ele será reexibido no dia 26 de março no CCBB às 20h com entrada franca. Clique aqui e acesse o evento criado no Facebook. O Cidadão assistiu e recomenda! Vá, assista e nos envie sua opinião com cópia para a Ludmila. É sempre bom aprender mais sobre a nossa origem, nosso passado mareense!

Comentários

Deixe um comentário