Estátua de Marielle Franco é inaugurada em praça pública

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A peça de bronze foi instalada no dia 27 de julho na praça Buraco do Lume, no Centro do Rio

Por Ana Cristina da Silva

Foto em destaque: Jefferson Luz (@ojeffersonluz)

No dia 27 de julho, dia em que completaria 43 anos, Marielle Franco foi homenageada com uma estátua em praça pública, no Centro do Rio de Janeiro. A instalação da peça de bronze, feita em tamanho real, foi em um lugar especial para a vereadora: o Buraco do Lume, onde Marielle seguia todas as sextas-feiras para prestar contas de seu mandato para os trabalhadores e trabalhadoras que transitavam pelo espaço. A inauguração reuniu familiares, amigos, políticos e diversos admiradores que lotaram o lugar para prestar homenagem à Marielle.

A realização da estátua e todo o seu evento de inauguração só foi possível graças ao trabalho do Instituto Marielle Franco e o apoio da mandata da vereadora Mônica Benício. O Instituto, fundado pela família de Marielle, arrecadou o dinheiro para a criação da estátua através de doações de 640 pessoas, o que possibilitou que a peça de 1,75 metros de altura fosse esculpida em bronze pelo artista Edgar Duvivier. Para a vereadora e companheira de Marielle, Mônica Benício, até mesmo a forma utilizada para viabilizar aquela homenagem era carregada de significado: “Essa estátua foi construída, também, com o financiamento coletivo. Ou seja, como Marielle, ela representa coletividade, representa esse espírito da solidariedade, porque legado não é só o que se deixa, mas também o que se leva adiante. Essa estátua está nessa praça hoje para se lembrar disso”.

A família de Marielle Franco esteve presente durante todo o evento de inauguração. Foto: Isabel Palmeira.

O dia, carregado de homenagens, começou com uma missa para Marielle às 10h na Igreja Nossa Senhora do Parto. Pela tarde, a família da vereadora se reuniu na praça Buraco do Lume para inaugurarem a estátua juntos. Marinete da Silva, mãe de Marielle, diz que apesar de ser uma data difícil ainda era um momento de extrema importância: “Hoje é o dia do aniversário dela, poderíamos estar cortando um bolo, mas infelizmente a gente tá vivendo da memória, da saudade, da história que Marielle construiu. (…) Estar hoje nessa festa é fundamental para a gente, é de uma importância enorme pelo o que a gente viu e pelo o que ela construiu enquanto mulher negra, enquanto parlamentar”. 

“43 anos atrás foi um dia muito bonito e de muita alegria, foi quando Marielle nasceu. 43 anos depois vemos a inauguração de uma estátua dela se perpetuando pela cidade do Rio de Janeiro, onde Marielle fez história”.

— Antônio Francisco da Silva Neto, pai de Marielle Franco.

A fila para tirar fotos com a estátua parecia só aumentar ao longo da tarde. E, entre as tantas pessoas presentes no Buraco do Lume, para além dos familiares da vereadora, estavam outros políticos como Alessandro Molon (PSDB) e Marcelo Freixo (Psol), que fizeram uma breve visita ao local. No entanto, figuras como o vereador Chico Alencar e a deputada estadual Renata Souza, permaneceram até o período da noite homenageando Marielle. “Essa estátua de bronze e ferro não é estática nem é estatística, ela aqui no Lume, que quer dizer luz, na praça do grande Mário Lago, é a concretização, a materialização para todo o sempre do que Marielle representou para nós, pro Rio, pro Brasil, para a humanidade. Aqui Marielle vai continuar falando, é uma estátua que fala. Falando o que ela falava aqui mesmo, às sextas-feiras, vestida de branco: justiça, igualdade, afeto, diversidade e paz”, diz Chico Alencar ao, mais uma vez, observar a estátua ao seu lado.

“Cada pessoa que chegar aqui, perto dessa estátua, perto desse monumento, erguer o braço e tirar uma foto com a Marielle, eu tenho certeza, não tenho dúvida, de que estará honrando o legado da Marielle para que a humanidade não se desumanize. Então, hoje evidentemente não é um dia de festa, é mais um dia de luta”.

— Renata Souza, deputada estadual do Rio de Janeiro.

Uma extensa fila foi formada por pessoas que desejavam tirar foto com a estátua recém inaugurada. Foto: Jefferson Luz.

Os acontecimentos após a inauguração

Com toda uma programação, por volta das 17h aconteceu uma aula pública com Anielle Franco, irmã de Marielle; a jornalista e escritora Eliana Alves Cruz; a professora Thula Pires; e a produtora de conteúdo digital Fatou Ndiaye. As quatro mulheres debateram sobre a importância da preservação da memória, bem no centro da praça que ainda se encontrava lotada. “Eu observo que se não fossem as pegadas de quem veio antes eu jamais estaria aqui. Nós somos fruto dessa corrente longa, e uma estátua é muito importante, porque é documento”, disse Eliana Alves Cruz em uma de suas tantas falas. O debate ainda abriu espaço para depoimentos e perguntas de pessoas que se encontravam sentadas pelas cadeiras distribuídas pelo espaço e entre os degraus da praça, fazendo com que o assunto também girasse em torno de temas como a luta antirracista no Brasil.

Da esquerda para a direita: Eliana Alves Cruz, Thula Pires e Anielle Franco. Foto: Ana Cristina da Silva.

Durante todo o evento de inauguração, o DJ presente reproduziu algumas músicas enquanto as pessoas transitavam pelo espaço conversando umas com as outras. No entanto, o encerramento se deu com a apresentação do Slam chamado “Justiça por Marielle Franco”, que contou com mais de 15 poetas inscritos no evento para batalhar apresentando versos que muito falavam sobre a realidade da população brasileira, principalmente, de mulheres negras e periféricas que, assim como Marielle, lutavam em prol dos direitos humanos.  

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