Exposição sobre Canudos estreia no Museu da Maré

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Por Carolina Vaz

Pela primeira vez, um museu de favela recebe uma exposição sobre a Guerra de Canudos, um marco histórico na resistência popular! A exposição “Canudos: Memória da Favela” se encontra no Museu da Maré até final de abril e conta com 69 fotografias do confronto, do fotógrafo Flávio de Barros. A entrada é gratuita. Durante o mês de janeiro, a exposição pode ser conferida de terça a sexta-feira, das 14h30 às 18h30.

A exposição foi lançada em 17 de dezembro e retrata a guerra ocorrida entre 1896 e 1897 que matou cerca de vinte mil sertanejos. Canudos era uma aldeia no interior da Bahia onde, por volta dos anos 1890, começou a morar um grande número de pessoas, seguidoras do beato Antônio Conselheiro. Tal movimento popular levou grandes fazendeiros e setores da igreja católica a pedir intervenção à República, que enviou o exército. Em 1896 começou a Guerra de Canudos, entre sertanejos e militares. As primeira três expedições de militares foram derrotadas pelo povo. A guerra acabou em 1897, quando o arraial de Canudos foi incendiado e destruído, e a maior parte de sua população morreu assassinada. Cerca de 60 anos depois, a cidade foi submersa e se tornou o açude de Cocorobó, fazendo jus à frase “O sertão vai virar mar”.

Foto: Haidar Limar
Foto: Haidar Limar

Uma das elevações montanhosas de Canudos era chamada de Morro da Favela, pela presença da árvore (favela). Os militares de baixa patente que destruíram Canudos e vieram ao Rio de Janeiro receber terras prometidas pelo governo federal ocuparam um morro que chamaram Morro da Favela, e foi assim que o nome “favela” se popularizou e ganhou os diversos significados que hoje conhecemos, e que para nós da Maré é de resistência e luta.

As fotografias de Flávio de Barros, fotógrafo contratado pelo governo para registrar o fato, trazem a memória da resistência do povo contra o autoritarismo dos governantes. Seja em Canudos, há 120 anos, seja na Maré, que passou mais de um ano ocupada pelas Forças Armadas, o povo resiste.

Nas palavras da direção do Museu:

“Ocupada pelas Forças Armadas da república brasileira até bem recentemente, a Maré revive Canudos em cada violação dos direitos humanos, em todas as trágicas mortes, nos inúmeros corpos ultrajados, nas tantas casas invadidas, em cada gota de sangue derramada neste ‘arraial’ da cidade do Rio de Janeiro.

Mas, principalmente, a Maré ressuscita Canudos em suas lutas pela dignidade, pela liberdade de expressão, pelo direito de ir e vir, pela valorização de sua cultura, pelo direito à cidade.

Canudos e as favelas estão há 120 anos dizendo: Chega de violência! Basta de exclusão! Fim das políticas públicas concebidas sem diálogo! Abaixo os autoritarismos travestidos de democracia! Queremos participar e ser respeitados! Nossa história, nossas lutas e memórias têm muito valor!

Por isso, aqui no Museu da Maré, Canudos é Memória da Favela que, tal como a árvore resistente às condições desfavoráveis da caatinga, consegue ser vitoriosa e espalhar suas sementes de esperança”

Foto: Haidar Limar

 

Endereço: Museu da Maré – Av. Guilherme Maxwell, 26, Maré. Referência: Passarela 7 da Avenida Brasil.

Contato: 3868-6748 / 3976-8779

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