Mulheres negras celebram Dia da Mulher Negra e homenageiam Conceição Evaristo
Reportagem: Simone Lauar
Texto: Carolina Vaz
Mulheres negras, militantes de movimentos sociais e muitas outras cidadãs e cidadãos tiveram o privilégio de, no dia 1º de agosto, participar de uma homenagem a uma grande escritora brasileira negra: Conceição Evaristo. Ela recebeu, na Câmara Municipal, a Medalha de Mérito Pedro Ernesto, que vereadoras e vereadores da cidade concedem a personalidades que se destacam na cidade, no estado e no país. Conceição Evaristo é uma poetisa negra, escritora e doutora em Licenciatura Comparada. O evento também comemorou o Dia da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha, em 25 de julho.
A iniciativa partiu da vereadora mareense Marielle Franco, do PSOL. Além de Marielle e Conceição Evaristo, compuseram a mesa de homenagem Jurema Werneck, diretora executiva na Anistia Internacional; a atriz Ruth de Souza; a integrante do Mecanismo de Combate à Tortura Patrícia Oliveira; a jornalista Flávia Oliveira; a Iyalorixá do candomblé Mãe Meninazinha de Oxum; e a vereadora Talíria Petrone.
Homenagem a mulheres negras da história do Brasil
Membras do mandato coletivo de Marielle Franco homenagearam mulheres negras da história brasileira, como a escritora favelada Carolina Maria de Jesus, autora de “Quarto de Despejo”. Dandara, quilombola guerreira de Pernambuco, também teve sua história lembrada. Assim como Virgínia Bicudo, socióloga e psicanalista paulista e Mãe Beata, mãe de santo feminista que lutou contra o racismo, machismo, sexismo e patriarcado. A Escrava Anastácia, chegada no Brasil em navio negreiro em 1740, também foi lembrada.
A jornalista mareense Renata de Souza prestou homenagem à também mareense Dona Orosina Vieira: “Eu, mulher negra, resisto. Sou Dona Orosina Vieira, uma das primeiras moradoras da Maré. Cheguei no Morro do Timbau ainda nos anos de 1940. Hoje sirvo de inspiração para o Museu da Maré. Dona Orosina Vieira, presente!”
Luta que atravessa gerações
Clatia Vieira, do Fórum de Mulheres Negras, falou da importância da homenagem: “Nós vamos caminhar juntas, porque ao mesmo tempo em que a gente passa informação, ao mesmo tempo em que a gente passa sabedoria e conhecimento, não tenha dúvidas: a gente recebe sabedoria e recebe conhecimento. (…) Eu quero dizer para Conceição que hoje, aqui, é quando a gente reforça as nossas vozes. Desde a voz de minha avó, até a voz das minhas netas. E isso é o trabalho que temos feito. Você nos fortalece, nos dá força para enfrentar todas as dificuldades das mulheres negras”.
Marielle Franco relembrou a história de luta das mulheres negras brasileiras em geral, resistindo e lutando desde a escravidão, e afirmou que o racismo ainda é uma luta diária, inclusive pela vida: “Nós não podemos deixar que continue o processo de racismo e extermínio da população negra enquanto nós, mulheres negras, somos a maioria dessa população. E nós precisamos nos afirmar na história que, até aqui, tem sido escrita por tantas outras mulheres negras, como Conceição Evaristo. (…) Essa homenagem é um chamado. Que possamos continuar repercutindo a história das rezadeiras, das benzedeiras, das mulheres parteiras que criaram a história que nos trouxe aqui. E que possamos também nos transformar em intelectuais da nossa própria história. Conceição, parabéns”.