O caso da Síria e o que tem em comum com as populações mais pobres do mundo

Geral, Opinião, Segurança

Por Carlos Gonçalves

Nesses dias me imaginei em casa, conversando com alguns amigos na virada de quinta para sexta. Distraído, com a minha vida relativamente normal, viramos a noite com aquelas conversas boas e animadas, com risadas e velhas histórias que nunca morrem, sabe? O tempo passou e todos resolveram voltar para casa, e eu, como de costume, me despedi de todos pela janela. O fato é que já era tarde, devia ser por volta das 4h da manhã dessa sexta-feira 13. Nesse momento, quando me despeço pela janela, percebo que o céu estava diferente, luzes, como estrelas cadentes, começaram a preencher o céu. Admirando por alguns segundos aquela imagem, reparei que essas luzes tinha uma direção muito bem definida e estavam caindo perto daqui, fazendo um estrondo gigantesco. Foi aí que me dei conta que as luzes, na verdade, eram mísseis, e o estrondo era o sinal de um verdadeiro atentado terrorista, promovido por três representantes da tirania mundial.

Essa história, fantasiada por mim quando li sobre o ataque na Síria,  poderia de fato ter acontecido. Tenta ilustrar um pouco a sensação daqueles que presenciaram o ataque dos EUA, França e Reino Unido em conjunto sobre a Síria. O bombardeio, com os inacreditáveis 105 mísseis, segundo o G1, deveriam ter deixado boa parte do mundo impactado (fato que não acredito que tenha acontecido). O ataque contra o “terrorismo”, como disse a embaixadora de Trump, Nikki Haley, foi, na verdade, uma demonstração de força e poder dos EUA em resposta a um suposto ataque com armas químicas nesse 7 de Abril, em Duma. As farpas trocadas no Conselho de segurança da ONU, principalmente entre EUA e Rússia, mostra o quão acesa ainda está a rivalidade histórica entre ambos, e que nesse contexto geopolítico surge um reclima de guerra fria. Do discurso de ambos, quero destacar dois trechos da Nikki Haley (EUA). Disse Nikki Haley:

“O Reino Unido, a França e os EUA agiram. Não como vingança, não como punição, não como uma mostra simbólica de força. Nós agimos para impedir o uso futuro de armas químicas e fazer com que o regime sírio seja responsabilizado por essas atrocidades.”

Continuou dizendo:

“Falei com o presidente nessa manhã e ele disse que se o regime sírio usar esse gás venenoso de novo, os EUA estão carregados e engatilhados.”

Surfando sobre a onda da suposta “ética” e da “moral”, as novas justificativas dos EUA estão “carregados e engatilhados” em prol de um mundo “livre e democrático”. A clara contradição entre o mundo livre sobre a visão norte americana e a visão dos países de economia periférica é de um abismo  gigantesco. É óbvio que as pessoas que provocaram o ataque químico em Duma devem ser responsabilizadas por tamanho ato de violência sobre o povo Sírio (que até então não houve comprovação de que foi o governo Sírio). Um ataque químico, que já sabemos os seus danos através da história  (tanto na primeira guerra mundial, como no pós), não deve ser usado, em hipótese nenhuma, sobre civis (fato já consolidado no regulamento internacional da ONU), contudo usar desse ataque como justificativa para demonstrar o poderio bélico para o mundo marca a irresponsabilidade da gestão de Donald Trump frente as consequências dessas ações para a atual geopolítica global (de irresponsabilidade, inclusive, o Twitter dele está cheio).

Fico, nesse entrelace que o mundo está tomando, pensativo sobre quais propostas conseguimos de fato mobilizar nessa luta eterna entre Davi (nós) contra Golias (esse Estado, cada vez mais autoritário). Ações como ataques com armas químicas, ou bombardeios, no fim demonstram o que o Estado (esse Estado que vemos todos os dias aí ) é de fato para a população mais pobre do mundo (que sempre é bom lembrar, ela é majoritariamente negra). Dentro desse mesmo mundo, surpreendentemente fico encabulado como no Brasil conseguirmos matar quantitativamente e proporcionalmente mais do que na  própria Síria. Parece que, no fim, o Estado dentro das suas disputas de poder e vaidade, globalmente nos vê como peças de suas disputas, que com as guinadas fascistas mundo a fora viraram um laboratório para testar os seus próprios limites.

 

Comentários