Professora do Pinheiro lança livro infantil sobre autismo

Educação, Notícias

Por Carolina Vaz

Uma criança, de quatro anos, com Transtorno de Espectro Autista (TEA) que encontra uma professora que a entende, que adapta atividades para sua aprendizagem, com quem se comunica pelo olhar e se desenvolve. Essa é a história do livro “Eu sou assim: vejo o mundo de uma forma diferente”, de Ligia Nascimento, professora de Educação Infantil e moradora da Vila do Pinheiro, na Maré.

Ligia é pedagoga e psicopedagoga, e há alguns anos, atuando na educação infantil do município de Itaboraí, ela recebeu na turma o Abner, uma criança com TEA. Ele tinha quatro anos e tinha uma mediadora que o acompanhava nas aulas. Porém, no seu segundo ano na escola, a CEMEI Francisca Mendes da Silva, ele passou a não aceitar mais a mediadora, mas tinha criado uma relação de afeto e confiança com Ligia, o que a levou a pedir para “dobrar” a matrícula, podendo ser mediadora de Abner no período da tarde e lecionar de manhã. A convivência a levou a começar a entender os gostos e hábitos do Abner, que era uma criança sem oralidade desenvolvida. “Pelo afeto e pelo carinho eu conseguia entender o que ele queria dizer e ele conseguia entender o que eu queria falar”, Ligia expressa. Foi essa convivência, de mais de dois anos, que convenceu Ligia a cursar uma especialização em TEA, para poder atender melhor o Abner e demais crianças autistas que aparecessem, e também criar recursos de aprendizagem adaptados a suas necessidades. A história do Abner a levou, também, a criar o livro, com o objetivo de conscientizar leitoras e leitores sobre a importância de entender e respeitar crianças autistas e seus responsáveis.

Capa do livro
“Eu quis dar voz ao Abner como se fosse ele narrando. Por que ele ficava na ponta dos pés? Por que ele gargalhava?”

O personagem do livro é exatamente o Abner. Uma criança que gosta de enfileirar canetinhas, tampinhas de garrafa e sapatos, e organizar a mochila. Ela queria expressar por que ele fazia essas coisas, mas mostrando ao mesmo tempo que não existe um padrão de comportamento. Crianças autistas são diferentes entre si assim como todas as pessoas do mundo são diferentes. Ao mesmo tempo, não é um estudo “científico” sobre o autismo, como ela explica: “Eu não queria falar o que é o autismo, isso se você olhar no Google você descobre. Isso eu deixo para os médicos. Eu queria mostrar no chão da escola, para quem se deparar na sala de aula com uma criança, por exemplo, que fica embaixo da mesa, que não fala, que a pessoa fique atenta. E eu vi que com o livro eu consegui levar essa percepção para as pessoas”. Outro destaque da obra está nas ilustrações: foram feitas por sua filha, Iris Nascimento, à época com 15 anos e hoje com 18. Ligia sempre teve o hábito de levar os filhos à escola onde trabalhava, portanto criaram amizade com as outras crianças e conheceram o Abner. Assim, Iris pôde reproduzir fielmente seus comportamentos.

Ligia e Iris: além de mãe e filha, autora e ilustradora da obra. Foto: arquivo pessoal.

O livro “Eu sou assim”, de cerca de 10 páginas, tem como editora a Brinque Ler, e foi lançado virtualmente em abril deste ano. Desde então, Ligia vem participando de eventos virtuais e presenciais levando a obra, como as feiras literárias de Mambucaba em Angra dos Reis (FLIM), Guaxupé em Minas Gerais (FLIG), São Gonçalo (FLISGO) e também jornadas pedagógicas como a JOPEI de Itaboraí. Nesses eventos, ela tem a oportunidade de falar sobre o livro e vender, e com frequência recebe devolutivas, inclusive de crianças com TEA que viram o livro e se identificaram, e mesmo não tendo a oralidade muito desenvolvida, mandam áudio emocionadas agradecendo. Quanto à família do Abner, eles consentiram com a publicação do livro e agradeceram a homenagem assim que foi lançado, reforçando o laço que permanece com Ligia, mesmo sem ser a professora atual.

Hoje, Ligia é educadora na CEMEI Francisca Mendes da Silva, em Itaboraí, e na Escola Municipal Carlota Machado, em Duque de Caxias. Ela teve outros alunos com deficiência e hoje cursa uma pós em superdotação. Ela pretende, ainda, escrever outro livro sobre preconceito e inclusão, ainda no objetivo de gerar menos julgamentos e mais respeito. “Eu quero menos dedos apontados e mais mãos estendidas, esse é meu lema”, afirma.

Além dos eventos para os quais é convidada, Ligia distribui o livro presencialmente ou enviando via Correios. Quem tiver interesse, tanto no livro quanto na sua presença em eventos, pode fazer contato pelo Instagram: @ligia.nascimento33

Comentários