Resistir para revolucionar: lançamento de livro debate a vida comunitária

Eventos, Memória

Por Carolina Vaz

O que é “comum” para você? Acordar, ir à padaria, pegar o ônibus para ir trabalhar ou estudar, pagar suas coisas no cartão de crédito? E se a gente pudesse viver mais comunitariamente, consumir, trabalhar, estudar e aprender com os nossos? Para debater o “comum” e as formas de resistência do cidadão em relação ao governo e ao sistema capitalista, os autores franceses Pierre Dardot e Christian Laval lançaram o livro “Comum: ensaio sobre a revolução no século XXI”, no Museu da Maré, em 07 de outubro.

Onde existir resistência

Para Christian Laval, a revolução dos cidadãos começa onde existe resistência, como no aprendizado coletivo e crítico no Pré-Vestibular Comunitário e no museu de favela, que quebra o conceito elitista original dos museus e reforça a memória do povo marginalizado. Quanto mais uma sociedade concentra iniciativas do tipo, mais perto chega do autogoverno e mais se distancia das amarras do Estado e do capitalismo. Segundo ele, o princípio do comum é de luta, combate e organização. Para Pierre Dardot, é fundamental fortalecer a capacidade de organização “por baixo”, a partir do povo. Os autores viajaram o mundo por anos encontrando formas de resistência comunitária, seja na educação, no trabalho, na sobrevivência. É a revolução no século XXI.

Da esquerda para a direita: Claudia Rose, a mediadora Tatiana Roque, Irone Santiago, Humberto Salustriano, Christian Laval, Pierre Dardot e Dayana Gusmão. Foto: Carolina Vaz

A importância dos coletivos

Existem muitas questões importantes na sociedade que não são contempladas nem pelo Estado e muito menos pelo mercado. Esse é um dos motivos da criação de coletivos representativos, como é o caso do Lesbi, ou Coletivo Resistência Les/bi de Favelas. Para Dayana Gusmão, criadora do Lesbi e assistente social, ainda há muito a ser feito nas favelas pela população LGBT  e especificamente pelas mulheres lésbicas, principalmente em termos de saúde e acesso a serviços. O coletivo também atua na educação, conversando com adolescentes. “É aqui que as demandas são mais urgentes”, ela afirmou.

Educação para a liberdade

Para Humberto Salustriano, professor do Curso Pré-Vestibular Comunitário do CEASM, o CPV, o curso comunitário serve para tentar suprir o problema do pouco acesso a ensino superior no país. Mas para além do acesso existe a didática: um ensino de visão crítica da sociedade, no qual ela não seja mostrada com o olhar dos colonizadores. Para Humberto, o processo real de libertação dos sujeitos só é possível com a descolonização do pensamento.

Reconhecer-se no outro

O evento também contou com a participação de Irone Santiago, mãe da Maré que denuncia a violência da polícia e do judiciário racista e que há quase três anos luta por justiça por seu filho, Vitor, hoje paraplégico, após ser baleado por militares na favela, dentro de um carro. De todo esse tempo de luta, conhecendo outras pessoas que tiveram seus entes mortos ou presos injustamente, ela afirmou ter aprendido a importância do diálogo e da convivência para que as pessoas possam se conhecer e se reconhecer no outro.

Em debate, os presentes comentaram sobre o quanto o Estado neoliberal, com a lógica da concorrência e a transformação das pessoas em meros consumidores, torna todos mais individualistas. “Estão nos tirando a humanidade, a capacidade de pensar no comum. O neoliberalismo nos torna competitivos”, afirmou Claudia Rose, coordenadora do Museu da Maré.  

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