16ª Parada LGBTQIAPN+ atrai grande público na Vila do João
Por Carolina Vaz
Foto de capa: José Bismarck
A Vila do João foi palco, no último domingo (10), da 16ª edição da Parada LGBTQIAPN+ da Maré. A festa, organizada pela ONG Maré Sem Preconceito, contou com DJ, bloco e apresentação de drag queens, levando centenas de moradores e visitantes a ocupar a rua no domingo de sol.
Postos de saúde marcam presença
Já na concentração da parada, fizeram-se presentes iniciativas da área da saúde oferecendo alguns serviços à população. As Clínicas da Família Adib Jatene, da Vila do Pinheiro, e Augusto Boal, do Timbau, uniram-se ao Centro Municipal de Saúde Vila do João, de modo que a equipe do Boal levou preservativos de todos os tipos e também informativos sobre identidade de gênero; a Adib Jatene levou kits de saúde bucal; e a equipe da Vila levou vacinas. No total foram mais de 20 profissionais envolvidos, entre agentes de saúde, técnicas de enfermagem e enfermeiras.
Janaína de Paula, enfermeira da CF Adib Jatene, contou que junto à distribuição dos kits e preservativos a equipe tira dúvidas da população quanto à prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), a disponibilidade dos testes na Clínica, assim como de atendimento para saúde bucal. Vitor Moreira, gerente da Clínica Augusto Boal, comentou a importância de levar a equipe para a rua: “É o momento de a Clínica estar no território, então sempre que a gente vai fazer essas ações externas a gente faz um planejamento interno, realoca a equipe, delega funções para o evento sair com sucesso”.
A experiência é semelhante para a equipe do CMS Vila do João, que levou doses da vacina bivalente da Covid e da Influenza, focando no público adulto. Segundo as enfermeiras Keith Santos e Fabielle Olegário, a população ainda acredita em muitos mitos sobre a vacinação, como que vai ter reação forte e que não pode tomar se tiver adoecido recentemente. “A população às vezes nem sabe quais são as vacinas ofertadas no posto. Aqui a gente pode orientar a pessoa a tomar uma vacina atrasada. Eu acho que a oferta na rua é a oportunidade que a gente tem de abranger toda a população”, comentou Fabielle Olegário.
Outra ação de saúde ofertada no evento foi a testagem de HIV, através do Grupo Pela Vidda. Cada pessoa que se interessava pelo teste fazia um cadastro, recebia informações sobre janela imunológica e produção de anticorpos e realizava, ela mesma, o autoteste pela saliva. O resultado saía em 20 minutos. Segundo o coordenador geral do grupo, Márcio Villar, eles focam numa população-chave, na qual o público LGBTQIAPN+ está incluído. Em virtude dos números de incidência do HIV, o grupo tenta focar também nos mais jovens, menores de 24 anos. Após o resultado do teste rápido, se der positivo para HIV, o grupo encaminha para uma unidade de saúde ou centro de testagem para realização de teste confirmatório. A expectativa no evento era realizar cerca de 30 testagens.
Mais um ano de Parada na Maré
Quem vê o trio elétrico, toda a estrutura de som, banheiro químico e organização, nem sempre imagina os obstáculos que existem para realizar um evento desse porte na favela. Alberto Araújo, o Beto Cabeleireiro, presidente da ONG Maré sem Preconceito, contou dos desafios de realizar a parada: são muitos os custos (trio elétrico, DJ, cachê para as drag queens) com pouco apoio governamental. Desta vez, o governo do estado, através do Programa Rio Sem LGBTIfobia, patrocinou o trio elétrico, e comerciantes do território também apoiaram com valores. Mesmo com dificuldades, o grupo se empenha para dar continuidade à primeira “Parada Gay” (como era chamada) dentro de uma favela no Brasil, realizada em 2006. Segundo ele, a parada da Maré é considerada hoje uma das melhores do Brasil, o que também motiva sua realização todos os anos.
“Para mim é um orgulho, a nossa parada hoje já está no calendário das paradas LGBTQIAPN+ do Brasil”
Alberto Araújo, presidente da ONG Maré Sem Preconceito
Não à toa, fizeram-se presentes na parada tanto grupos e lideranças locais, como Conexão G e os presidentes das associações da Vila dos Pinheiros e do Parque União, quanto militantes da causa de outros bairros e cidades. Chiquinho Bombom, militante da Parada de Marechal Hermes, e Xuxete, militante de Sepetiba que representou a Zona Oeste, marcaram presença.
Diferentes estilos musicais animaram o público
Toda a concentração da Parada teve a discotecagem da DJ Nanda Machado, de Macaé, que toca em eventos do tipo por todo o Brasil. O percurso da parada até o palco já foi animado pelas mulheres do Bloco da Yaya, resultado de uma das oficinas da Casa da Mulher Sambista. O projeto é uma casa itinerante que oferta oficinas gratuitas para mulheres, principalmente as que não podem pagar para aprender em outros blocos. Tendo musicistas profissionais como professoras, o bloco levou para a Principal da VJ pelo menos 40 mulheres tocando sucessos do Carnaval como “Olhos Coloridos”, “Pequena Eva” e “Baianidade Nagô”.
Para Renata Ribeiro, representante do bloco, este era um momento importante para as musicistas praticarem num evento de relevância: “Para a gente estar aqui hoje é um grande prazer, não tenho palavras para mensurar isso. Eu já vou à parada LGBTQIAPN+ mas nunca tinha vindo nessa. E hoje, não pelo meu corpo solo, mas apoiando a causa, porque a gente precisa marcar esse espaço de direito à vida!”. A Parada ainda foi o momento de estreia da rainha de bateria do Bloco da Yaya: a mareense Day Vieira brilhou e entregou muito samba na frente do bloco.
Já na metade da Rua Principal, o bloco finalizou sua participação e deu lugar à apresentação de drag queens no palco já montado. Algumas delas foram Negrinny Venture, Kathitagringa e Desiree Cherr.