Um basta no racismo e nos 5 anos de UPP

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Dia da Consciência Negra no Santa Marta
Dia da Consciência Negra no Santa Marta

Por Gizele Martins

Ao som de muito funk e hip-hop, a comemoração do Dia da Consciência Negra realizada no Pico do Morro Santa Marta bombou. A homenagem que foi lembrada no último sábado, dia 30 de novembro, recebeu inúmeros militantes, moradores (as) e apoiadores (as) da grande luta favelada. Foram mais de 100 pessoas que passaram por lá. Mas, este foi um dia também para falar dos 5 anos da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Um grande protesto foi feito. Faixas e falas lembravam os 5 anos desta política racista que criminaliza cada dia mais a favela.

Artigo sobre os 5 anos de UPP- Basta!

Nossas bandeiras contra a criminalização da favela sempre estiveram pelas ruas. Nos últimos meses, pautas que antes eram só das favelas passaram a ocupar outros espaços da cidade. Foram inúmeros os protestos em que o tema da segurança pública apareceu. Tema este que automaticamente envolve o debate da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), além da desmilitarização da polícia; remoções; direito à cidade; educação; saúde; liberdade sexual; sistema penitenciário, entre outros.

São pautas históricas, mas que também tem a ver com o momento deste lugar conhecido como “cidade maravilhosa”. Afinal, o Rio de Janeiro é a cidade escolhida para receber os Megaeventos que serão em 2014 e em 2016. E, para que ela esteja preparada para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas, os governantes estão mudando as estruturas físicas deste território. Mas o território escolhido para ser sacudido mais uma vez, é o lugar habitado por uma população pobre, negra e favelada.

A invasão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas favelas cariocas que começou há exatamente 5 anos, é exemplo disto. Este é mais um modelo de cidade com a ideia de proteger o asfalto e os turistas para a chegada dos jogos. Política esta feita de cima para baixo para o preparo da cidade. Mais uma forma brutal e esclarecida de racismo do Estado que trata a favela como criminosa e violenta.

Na Rocinha, um ajudante de pedreiro, o Amarildo, foi exterminado por esta tal UPP. Caso que percorreu o mundo. Lá, assim como nas mais de 20 favelas que estão hoje ocupadas pela (UPP), outros moradores têm desaparecido. “Entre 2007 e 2012, foram registrados 553 casos de desaparecimento nas 18 primeiras comunidades. Os relatórios do ISP indicam aumento progressivo anual até 2010, quando o indicador atingiu o seu ápice (119 ocorrências)”, dados do Instituto de Segurança Pública em matéria do UOl publicada em agosto de 2013.

Além da força armada, estas favelas que são invadidas pela UPP, passam a ter o terreno “valorizado”. O local passa a ter a luz, a água e os impostos legalizados. Mas, sem qualquer condição de trabalho, moradia ou outro direito, os moradores sofrem com o aumento de cada pedaço do seu chão e passam a ter que sair dos seus locais de moradia e ocupar outros espaços mais baratos da cidade. Sendo este fato conhecido como “Remoção Branca”. A maior parte das favelas que recebem a UPP estão localizadas nas áreas nobres do Rio, ou em locais estratégicos da cidade como no caso dos Conjuntos de Favelas da Maré e do Alemão, ambas próximas ao aeroporto internacional e das vias expressas que ligam ao centro cidade.

Em junho, assim como milhares de movimentos, os moradores da Maré ocuparam a Avenida Brasil colocando em pauta principalmente a ação violenta e diária da polícia nas favelas, já que ela tem sofrido com as constantes invasões da polícia nos últimos meses. Mas, assim como sempre acontecem nos locais mais pobres da cidade, o Estado opressor mandou a sua força armada representada pela Polícia Militar e pelo Bope, a parar com aquela manifestação. Treze pessoas foram brutalmente assassinadas depois desta tentativa de manifestação. Mais uma prova de que não estamos num país democrático.

E os tiros de borracha vindas dos policiais que hoje perseguem as manifestações, por mais brutais e violentos que sejam, ainda conseguem ser diferentes dos tiros que percorrem os becos, ruas e vielas das favelas cariocas. O que não é por acaso, pois são nas favelas onde tem uma maioria negra e são estes que historicamente sofrem com a opressão e o Racismo esclarecido do Estado e da sociedade que se afirma sempre – em suas palavras – como uma sociedade não racista.

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