AfroGames forma mareenses em cursos de programação e esportes eletrônicos

Educação, Geral

Por Ana Cristina da Silva

Foto em destaque por José Bismarck

Em junho do ano passado, um projeto até então nunca visto pelos moradores e moradoras chegava à Maré: o AfroGames. Com o objetivo de transformar jovens periféricos em atletas de e-Sports, a parceria com a AfroReggae e a Chantilly Produções também trouxe aulas de inglês e um curso de programação e desenvolvimento de jogos. Com um ano de atuação das unidades do Morro do Timbau e Nova Holanda, o projeto concluiu seu primeiro ciclo de aulas, encerrando com uma formatura no último sábado (24), na Vila Olímpica Municipal Seu Amaro.

Ao todo foram 134 formandos que se dividiam entre os cursos de Programação, Valorant, Free Fire e League of Legends. Por atender pessoas dos 12 aos 29 anos, o projeto formou crianças, jovens e também adultos, como Lucas Galdiano Silva, de 25 anos. O morador da Nova Holanda se formou no curso de League of Legends e demonstrou satisfação em relação ao projeto: “Eu realmente queria ter conhecimento sobre formação de times de jogos eletrônicos, e ali eu tive uma experiência realmente boa pra aprender sobre isso. Até o momento eu me senti orgulhoso em relação a ONG”. Lucas já era jogador de LOL há 3 anos e, como muitos moradores da Maré, por vezes se viu impossibilitado de jogar devido a conexão instável do território, mas ao ingressar no projeto teve acesso a novos equipamentos e aprendizados que o ajudaram em seu desempenho, fazendo até mesmo com que chegasse a considerar o ramo profissional.

Os formandos se organizaram nas arquibancadas do ginásio e foram chamados um a um para receber o certificado. Foto: Ana Cristina da Silva.

Na cerimônia, familiares e amigos estiveram presentes, assistindo e vibrando a cada nome chamado para receber o certificado que, graças a uma das obrigatoriedades do projeto, garantia que o aluno havia concluído o curso de sua escolha junto a um curso de inglês. Com a presença dos diretores, professores e colaboradores do projeto, a cerimônia ainda contou com uma premiação para os alunos de destaque de cada curso ali presente, o que incluía também os alunos que mostraram evolução nas aulas de inglês. Estes chegaram a agradecer ao microfone utilizando o idioma americano.

“São duas aulas na semana, antes ou no caso depois deles fazerem a aula de Free Fire, por exemplo, eles têm que fazer a aula de inglês. Então não tem essa, se você faltar a aula de inglês você pode ser cortado da aula de Free Fire. O inglês é muito importante, a gente estimula bastante isso daí. Tem atletas que tem oportunidade de fazer um teste pra outro time e tem diversos gringos de outros países, então tem que estar com o inglês em dia pra saber se comunicar”.

— Carlos Azevedo, professor de Free Fire.

A equipe de professores de inglês das unidades da Nova Holanda, Morro do Timbau e Vigário Geral também estiveram presentes na cerimônia. Foto: José Bismarck.

Mercado de jogos

O mercado de e-Sports vem crescendo cada vez mais no mundo todo. Segundo a Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia da PwC Brasil, somente no ano de 2021, a indústria de videogames e esportes eletrônicos gerou uma receita de US$ 1,4 bilhão no país, estimando que aumente cada vez mais, chegando a US$ 2,8 bilhões (cerca de R$ 13 bilhões) no ano de 2026. É com essa visão de mercado que a AfroGames trabalha com cursos voltados para a formação de atletas que, dentro de um time profissional, podem gerar renda através de torneios e competições de Battle Royale, MOBA (Multiplayer Online Battle Arena) e FPS (First Person Shooter), que são gêneros de jogos eletrônicos onde se encontram, respectivamente, o Free Fire, League of Legends e Valorant.

Jogos como estes exigem o uso de celulares, computadores e até, em alguns casos, aparelhos de videogames. E, apesar da distinção de gênero, todos os três jogos são considerados competitivos, necessitando então de uma boa internet para que jogadores disputem partidas de modo online. Segundo o formando Lucas Galdiano, há muita coisa que precisa ser trabalhada em jogos competitivos e na AfroGames ele pôde evoluir em muitas: “Eles explicam todas as partes do jogo em si, cada personagem, cada habilidade, os itens, como funciona o sistema do mapa. Explicam cada detalhe sobre isso para que cada um crie uma estratégia e ao mesmo tempo também crie uma formação entre o time”.

Lucas Galdiano Silva concluiu o curso de League of Legends. Foto: José Bismarck

“‘Como eu vou dar uma aula de League of Legends?’. A gente não tinha nenhuma metodologia, com os anos a gente foi aprendendo. Inclusive, a gente tá agregando pedagogos na nossa equipe de colaboradores. Hoje a gente tem uma parte que é iniciante, uma parte de tutorial. Hoje a gente monta um Power Point, uma apresentação pros alunos, pra eles entenderem qual a mecânica do jogo, como mexer no computador, já que muitos nunca nem mexeram num computador. Então a gente tem desde o básico até o avançado”.

— Rennan Costa, coordenador de e-Sports da AfroGames.

Geração de renda

Com sede em Vigário Geral, a AfroGames conta com um time profissional formado por alunos que se destacam durante os cursos. Eles podem agregar tanto a equipe de criação quanto a equipe de atletas que participam de grandes competições. Com um ano das unidades da Maré, o projeto observou três mareenses de talento que hoje atuam também com a equipe de Vigário Geral, recebendo uma bolsa no valor de um salário mínimo. “A gente tem dois alunos como profissionais no ramo de e-Sports, e uma aluna como criadora de conteúdo, ela cria conteúdo sobre games. A gente já tá gerando uma renda pra esses três alunos”, informa Rennan Costa, coordenador de e-Sports da AfroGames.

“Eu sempre tive muita vontade de ter um computador, eu não tenho ainda, mas sei que vou conseguir conquistar. Eu só ia na Lan House, inclusive eu fugia da minha mãe pra ir jogar na Lan House. Daí eu entrei na AfroGames falando ‘cara, eu vou ter equipamentos que eu não tenho em casa. Eu vou poder fazer uma coisa que eu gosto, que eu tenho muita vontade de fazer, e tudo de graça’. E foi isso, foi no projeto que eu, pela primeira vez, mexi num computador gamer. Foi muito bom, acho muito maneiro isso que a AfroGames traz pra gente, eu sou muito grata por tudo isso”.

— Maria Luiza, formanda de Valorant e criadora de conteúdos da AfroGames.

Maria Luiza, de 17 anos, entrou para a unidade do Morro do Timbau para jogar Valorant, sem imaginar que hoje estaria recebendo um salário mínimo para trabalhar como criadora de conteúdos da AfroGames. “Eu criava conteúdo mais pra mim mesma. Até então eu não estava pensando em fazer nada sério. Daí eu tive a oportunidade, a galera (do curso) estava torcendo por mim. Me inscrevi e acabei sendo selecionada, então eu comecei a atuar como influenciadora”, explica a mareense. Para o futuro, Malu, como é conhecida, espera poder continuar contribuindo com a AfroGames e influenciando outras pessoas de forma positiva. “Espero poder mostrar para as pessoas que tudo é possível, que a gente pode sim fazer o que a gente quer”.

Por outro lado, também na turma de Valorant, 2 alunos da Maré se destacaram e conquistaram uma vaga no time profissional da AfroGames. Durante a cobertura feita pelo Jornal O Cidadão no dia da formatura, Rennan explicou que os dois não estariam presentes pois estavam participando de um campeonato de Valorant em Maricá. “Eles já começaram a treinar lá de Vigário, que é o nosso CT. Eles têm uma rotina com psicólogo, preparador físico, aula de inglês, então eles já são atletas profissionais, têm um nível profissional e, o melhor de tudo, é que eles recebem um salário pra poder jogar”, explica o coordenador.

Rennan Costa já foi professor, coach e agora segue no cargo de coordenador de e-Sports da AfroGames. Foto: José Bismarck.

Ao encerrar este ciclo no dia 24 de junho, o projeto pretende abrir inscrições para novos alunos ainda no início de julho. Para se inscrever é preciso ter mais de 12 anos e comparecer em uma das duas unidades com documento de identidade, CPF e comprovante de residência. Se o mareense for menor de idade é preciso levar a documentação do responsável junto.

Rua Sargento Silva Nunes, 608 – Nova Holanda

Rua dos Caetes, 131 – Morro do Timbau

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