Coletivo Martha Trindade e Instituto PACS debatem sobre a qualidade do ar na Maré
Texto por Raysa Castro
Foto da capa por Ana Cristina da Silva
Já parou pra pensar como é a qualidade do ar que respiramos na Maré? Como você acha que a má qualidade do ar pode interferir na sua vida?
Essas são reflexões de extrema importância para alguns moradores de favelas e periferias do Rio de Janeiro, assim como de todo o Brasil. Nos últimos anos, instituições e organizações sociais têm trazido esse debate à tona: será que temos acesso a um ar de qualidade? Uma vida com direito à saúde?
Foi com base nessas questões que o encontro em prol da campanha “Rio Capital do Caô Climático” aconteceu no Museu da Maré. O evento foi aberto ao público e conduzido por representantes do coletivo Martha Trindade e do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) para debater como a Siderúrgica Ternium Brasil, localizada em Santa Cruz, afeta a vida e a saúde dos moradores de diferentes bairros, afetando também a qualidade do ar nas favelas da Maré.
Representantes do Coletivo Martha Trindade e Instituto PACS se reuniram com moradores da Maré. Foto: Ana Cristina da Silva.
Composto em grande parte por moradores de Santa Cruz, o Coletivo Martha Trindade homenageia a moradora de mesmo nome, uma das primeiras do território a falar sobre os impactos da siderúrgica Ternium Brasil no bairro. O coletivo surgiu a partir de uma Vigilância Popular em Saúde, feita pelo Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS), a Fiocruz e o Instituto Justiça nos Trilhos.
No dia 07 deste mês, Carmen Castro, doutora em planejamento urbano e regional e assessora política pedagógica do PACS, se juntou às coordenadoras Aline Marinho e Beatriz Alves, do Coletivo Martha Trindade, para abordar como os gases e partículas despejados no ar pela Ternium Brasil vêm impactando não só Santa Cruz, como inúmeros outros bairros. A conversa contou com a presença de jovens que participam de atividades no CEASM e Museu da Maré, a fim de se trazer uma conscientização dos impactos causados pela má qualidade do ar dentro do território.
Da esquerda para a direita: Beatriz Alves, Aline Marinho e Carmen Castro. Foto: Ana Cristina da Silva.
Segundo o estudo Mudanças Climáticas e siderurgia: impactos locais e globais da Ternium Brasil, em Santa Cruz a poluição ultrapassa o limite definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tendo ocasionado mais de duas vezes a chamada “chuva de prata”, que é consequência provinda da produção de aço. Esse processo gera os montes de escórias, depositados nos postos de emergências da siderúrgica, mas que, com os ventos, as partículas são espalhadas, invadindo os bairros e casas das populações.
As áreas onde as siderúrgicas são instaladas são chamadas de “zonas de sacrifício” para evidenciar os impactos diretos nas vidas de pessoas pobres e periféricas que não têm o direito a uma qualidade de vida e de bem-estar pleno. A campanha “Rio Capital do Caô Climático” vem em contrapartida ao “Rio capital do G20”, que acontece entre os dias 14 e 19 deste mês, onde serão debatidos assuntos sobre o combate à fome, pobreza e desigualdade, as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental) e a reforma da governança global.
A Ternium Brasil:
A antiga TKCSA se instalou no bairro de Santa Cruz em 2005, e teve início às atividades da empresa de aço em 2010. É a maior da América Latina, e tem a capacidade de produzir até 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano, com atendimento às indústrias automotivas, de óleo e gás, de maquinário, linha branca, naval e de energia nos EUA, México, Brasil e Europa.
62, 4% das emissões de todos os empreendimentos da Ternium, são emitidas na Zona Oeste, entretanto, grande parte do aço inacabado não é destinado ao mercado interno, mas sim para exportação.
Além dos estudos feitos pelo Instituto PACS sobre as mudanças climáticas e suas relações com a siderúrgica, a Maré está cercada por três importantes vias expressas altamente movimentadas do Rio de Janeiro: Linha Amarela, Linha Vermelha e Avenida Brasil. A Mata da Maré não é suficiente para diminuir os impactos e problemáticas atenuadas nas 16 favelas do Complexo da Maré, que comprometem a saúde dos moradores em decorrência da poluição, deixando os moradores vulneráveis às doenças respiratórias, dermatológicas, cardiovasculares, entre outras.
Fotos da galeria por Ana Cristina da Silva.
Após a roda de conversa que contou também com a participação da turma de Jovens FAPERJ, formação do Museu da Maré, e os integrantes do Ecoa Maré, projeto de Ações de Desenvolvimento Socioambiental do CEASM, as representantes do coletivo Martha Trindade disponibilizaram alguns dispositivos termo-higrômetros e ensinaram como fazer a verificação da qualidade do ar. De forma coletiva, o grupo ali presente fez a verificação no pátio do Museu da Maré e na passarela 7 da Avenida Brasil.