Ecoa Maré apresenta produções em evento de encerramento do ano
Texto e foto de capa por Carolina Vaz
Com a chegada de Dezembro, alguns projetos do CEASM realizam a avaliação do ano e, também, abrem ao público para conhecer melhor suas produções. Foi o caso do evento de encerramento do Ecoa Maré, realizado em 3 de dezembro no Museu da Maré. O encontro reuniu família e amigos da equipe técnica e dos agentes de promoção socioambiental, assim como outros grupos parceiros do projeto, como a equipe do Eco Rede da Cidade de Deus.
Os três R da sustentabilidade
Desta vez, o projeto aproveitou o espaço para mostrar suas produções, como a composteira de material orgânico e a brinquedoteca com brinquedos de material reciclado. Também foram exibidos dois vídeos com depoimentos dos agentes de promoção socioambiental contando da experiência no projeto e outro sobre o ecoponto instalado no CEASM.
Abrindo as falas do evento, o coordenador do projeto Guilherme Paiva explicou que o grupo decidiu, no ano de 2024, trabalhar com os “três R” da sustentabilidade, que são reduzir (o consumo), reutilizar (os materiais) e reciclar. Uma vez que uma das atividades do Ecoa é realizar oficinas em escolas de ensino infantil e Fundamental I, com o protagonismo dos jovens que são os agentes de promoção socioambiental, foi este tema gerador que orientou as ações nas escolas durante todo o ano.
Uma delas é a esquete teatral, que foi reproduzida também no Museu da Maré. Nela, um acontecimento do cotidiano acaba gerando um grande problema pela falta de cuidado com os resíduos da festa: é o aniversário da Gabi e, após a presença de amigos e vizinhança, sua mãe vai arrumar a bagunça que ficou. Ela é orientada por uma amiga a separar o lixo reciclável, mas diz que é “trabalho em dobro” e não faz. Quando chega o rapaz para levar as latinhas, há um copo quebrado junto e ele se machuca no vidro. No restante da esquete, os personagens comentam sobre a importância de separar o lixo adequadamente. Após a apresentação, Thais Paiva, pedagoga no projeto, comentou que a elaboração desta cena foi feita em conjunto pelo grupo, partindo não só do tema gerador, mas do conhecimento sobre o público: é preciso levar a mensagem de sustentabilidade de um modo que crianças pequenas, das escolas atendidas pelo Ecoa, possam compreender. A versão final do texto foi do ator e arte-educador Matheus Frazão.
Metodologia compartilhada
O evento também foi prestigiado por parte da equipe de outro projeto, o Eco Rede da Cidade de Deus. A metodologia do Eco Rede foi criada, há mais de uma década, pela instituição Alfazendo, e aplicada no CEASM com o mesmo nome (Eco Rede) de 2011 a 2017. Em 2023 tornou-se Ecoa Maré, mantendo a metodologia. As agentes contaram que este ano na Cidade de Deus decidiram trabalhar com as crianças o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 11, sobre Cidade e Comunidade Sustentável. Para levar esse tema às crianças da CDD, o grupo criou um mapa do bairro, mapeando as escolas da região e mostrando os três rios lá existentes: Banca da Velha, Rio Estiva e Rio Grande.
Segundo Maria Eduarda Silva, agente de promoção socioambiental, o mapa é utilizado para se conversar sobre a aplicação de cidade sustentável na favela. Ana Vitória de Araújo, outra agente, contou que elas também usaram um material para abordar a poluição dos rios, reciclagem e energia solar: “É uma técnica de incentivar eles a fazer o certo, mesmo que eles sejam pequenos, eles ainda interagem bastante”, contou. Lidiane Barbosa, coordenadora do Eco Rede, começou a atuar no projeto há quase 10 anos e comentou o quanto essa participação a fez conhecer melhor seu próprio território. Ela ainda destacou a satisfação em ver que a metodologia dá certo, que os jovens se sentem abraçados pela forma de fazer.
Encerramento do ciclo
Este também foi o tom do grupo de agentes do Ecoa Maré, que agora se despedem do projeto. Richard Batista, de 17 anos, participou do Ecoa pela segunda vez agora em 2024, e contou o quanto é gratificante estar nas escolas com as crianças, levando o tema gerador de forma lúdica: “A gente tem diversas maneiras de estar nas escolas, de como vai atuar. Tem nervosismo, trabalhar com criança não é fácil, no final do dia a gente fica exausto, mas é muito gratificante”. Já a Adryelle Vitoria Fonseca, que entrou no grupo este ano, contou que não sabia do que se tratava o projeto antes, e até achava que não seria tão bom, mas se tornou algo que ela não quer sair mais. Foi o que expressou também Maycon Douglas Menezes, que contou ter entrado “sem saber de nada” e aprendeu muito. Já a Fernanda de Souza, apesar de ter completado também dois anos no Ecoa, comentou que nunca se para de aprender, e um dos principais aprendizados foi conviver com pessoas diferentes, criar um grupo coeso e chegar no final do ano vendo que se fez um trabalho de excelência.
E apesar de os jovens revelarem que aprenderam muito, a equipe técnica comentou ter aprendido ainda mais. Segundo Thais Paiva, “cada um é um e a gente vai aprendendo a lidar com as questões que surgem, o jeitinho de cada um, suas vivências”. Matheus Frazão comentou o quanto é gratificante ver os jovens crescendo no projeto, amadurecendo ideias e sabendo se posicionar. Ter colaborado para a formação de jovens mais conscientes de seus desejos também foi importante para Cida Araújo.
A mudança nos jovens é perceptível até para seus familiares, como revelou Keila Regina Correa, mãe do Maycon Douglas Menezes de 17 anos. Segundo ela, após uma perda na família, o Maycon se encontrava desanimado, sem vontade de fazer nada, até que o afilhado dela, Richard, fez o convite para conhecer o projeto. Indo ao CEASM todos os dias, criando novos laços e realizando atividades, ele mudou: “Hoje é um menino mais sorridente, ele conversa em público, é o filho que toda mãe quer ter e me dá muito orgulho”. Ele também mudou alguns comportamentos na família.
“O Maycon passou para a família a reciclagem, ensinou para os irmãos dele sobre separação do lixo, trouxe o cuidado com a natureza para as crianças de casa”. – Keila Regina Correa, mãe do agente de promoção socioambiental
O comportamento se repete na casa da Elaine Soares, de 17 anos, moradora da Nova Maré. Ela conta que começou a estimular seus pais a separar o lixo, identificar quando há vidro para não prejudicar os garis e catadores, e apesar de todo esse esforço ela lamenta que seja tão crítica a situação do lixo no bairro. Na Nova Maré há apenas 4 lixeiras de ferro para os moradores utilizarem, e ainda assim muitas pessoas jogam na rua, os carros passam e espalham. Despedindo-se do Ecoa, Elaine ainda comenta sobre como foi o projeto para ela: “O que eu mais gostei foi a colaboratividade que a gente tem entre si, e as coisas que a gente aprende a cada dia… aqui no Ecoa não tem ‘certo’ nem ‘errado’, e eu saio apaixonada pelo projeto”.
Ao final do evento, o público pôde levar para casa um porta-retratos feito de material reciclado.