Escola no Timbau estimula o emocional das crianças na primeira infância
Por Ana Cristina da Silva
O período do nascimento até os 6 anos de idade, também chamado de Primeira Infância, é uma fase da vida extremamente importante para o desenvolvimento do ser humano. E, pensando nos impactos sociais da pandemia, este ano o Espaço de Desenvolvimento Infantil Profª Kelita Faria de Paula, localizado na Maré, deu início a um projeto que visa trabalhar as emoções das crianças ao organizar rotinas e atividades que incentivam a capacidade de expressão e ajudam, também, no desenvolvimento de habilidades sociais e valores humanos.
Localizado na Avenida Guilherme Maxwell, próximo ao Museu da Maré, o EDI Profª Kelita Faria de Paula atende crianças de 6 meses a 6 anos de idade. Desde o início do ano que a equipe, formada por pedagogos e agentes de educação infantil, vem estimulando a capacidade de expressão das crianças. De acordo com a diretora Rosângela Alves, a ideia do projeto é facilitar as etapas de vida posteriores: “A gente entende que, hoje em dia, muito mais que os conhecimentos técnicos, precisamos ter inteligência emocional para lidar com o dia a dia, com as pessoas. Aí a gente pensou em um projeto onde a gente trabalhasse esse sentimento e essas emoções desde pequeno, para que no futuro eles possam ter uma inteligência emocional para poder lidar com as coisas”.
Falar sobre emoções pode ser algo complexo para todas as idades, mas trabalhar esse tipo de coisa com crianças que estão tendo o seu primeiro momento de socialização pode se tornar um desafio, assim como é para Raquel Sales, professora adjunta do berçário que atende crianças de 6 meses a 2 anos de idade. Nesta turma, o desenvolvimento das emoções é estimulado aos poucos, através de ações sutis inseridas na rotina das crianças. Raquel destaca que o foco está na afetividade e nos trabalhos visuais e musicais, já que o canto facilita a compreensão. Porém, apesar do desafio, não se trata de um trabalho impossível. “Eu percebo que a sementinha que foi plantada lá em fevereiro, hoje a gente já consegue ver prosperar em relação aos valores, principalmente a amizade e o respeito entre os amigos. Aí vocês devem me perguntar ‘mas no berçário?’ a gente entende que é possível essa interação, é possível desenvolver o respeito, o companheirismo, a amizade e o afago”.
Os resultados também são bem positivos nas outras turmas. No maternal II, as crianças de 3 a 4 anos já sabem identificar, nos colegas e nas imagens, as 4 principais emoções: raiva, alegria, tristeza e medo. A professora Ilana Siqueira, de 39 anos, acredita que há uma grande evolução desde o início do projeto. “Esse trabalho com educação emocional tem sido muito importante nessa faixa etária também, porque eles já estão com a oralidade mais avançada, já conseguem se expressar, mas não conseguem lidar com as emoções, então sempre querem conseguir as coisas através do choro, da birra. Então quando a gente começa a conversar com eles, sempre através do diálogo, de perguntar, tentar entender o que ele tá sentindo, por que ele tá chorando, o que ele quer, qual a necessidade daquele momento, eles passam a se controlar melhor, a entender que tem alguém para ajudar”, diz a professora que também acredita que este trabalho ajuda na questão da empatia, já que cada vez mais as crianças têm se colocado no lugar do outro.
Para além das rodas de conversa, que contam com músicas e brincadeiras, o EDI Profª Kelita Faria de Paula realiza atividades visuais e interativas. A caixa dos sentimentos é composta por cards que apresentam imagens de diferentes situações, a partir dali as crianças refletem sobre os sentimentos que cada situação causa nelas. A ideia é fazer com que as crianças saibam não só se expressar, mas também aprendam a lidar com o que sentem. Por conta disso, o trabalho dos professores requer muita observação e criatividade, assim como foi preciso em uma semana onde cerca de 4 crianças disseram estar com raiva. “Fizemos uma atividade de jogar a raiva fora, eles tinham que extravasar a raiva no papel, rabiscando bem rápido e depois amassar e guardar dentro da caixa da raiva. E aí eles ficaram eufóricos amassando todas aquelas folhas e jogando na caixa para espantar aquela raiva”, disse Ilana Siqueira.
A participação da família também é essencial para o projeto. Ao longo do ano são realizadas algumas reuniões com os responsáveis das crianças, onde a equipe do EDI compartilha sua metodologia e discute sobre o comportamento dos alunos desde o início do ano letivo. “No geral eles são bem participativos. Nós fazemos atividades uma vez por mês com eles na escola. As famílias entram e participam da rotina de uma atividade junto com eles (…) eles vestem os nossos sonhos junto com a gente”, diz a diretora Rosângela Alves. A última atividade que reuniu crianças e responsáveis se chamou “dia do meu pet na escola”, no final do mês passado. A atividade consistiu em apresentar os animais de estimação para os colegas, onde até mesmo aqueles que não possuíam nenhum animal se divertiram conhecendo e interagindo com diferentes pets como cachorros, calopsitas, tartarugas, hamsters e até patos.
O EDI Profª Kelita Faria de Paula
Comemorando 10 anos de existência, o Espaço de Desenvolvimento Infantil na avenida Guilherme Maxwell funciona de 7h às 16h e conta com 44 funcionários. Com um total de 10 turmas, o espaço conta com salas de atividades, área de recreação, refeitório e até mesmo uma horta que, por sua vez, viabiliza parte das refeições do local. Iniciado este ano, o projeto que desenvolve as emoções das crianças pode ser percebido até mesmo na decoração das salas e corredores, ressaltando que o estímulo visual também é muito importante para o aprendizado.