Falando sobre o crack
Jornal O Cidadão, entrevistou Adnéia Trupati, psicóloga e diretora de formação e capacitação na Secretaria de Políticas de Segurança em Duque de Caxias com foco na prevenção do crack.
1. O crack deve ser tratado como problema de segurança pública ou saúde pública?
De saúde pública. Porque a doença da dependência química prevê ações que possa atender a pessoa no aspecto físico e social. Quando uma pessoa fica doente por causa da dependência química, a parte biológica e psicológica estão afetadas e as relações sociais também. Só a intervenção policial não vai dar conta dessas três dimensões, então nós temos que ter atividades que possam suprir em todos os aspectos psicosociais do ser humano. Atividades sociais, de suporte psicológico e que possam ajudar a vencer a dependência química.
2. O que é o “Projeto Crack é possível vencer”?
É um projeto do Governo Federal que auxilia o Governo Municipal na questão do crack e do seu impacto. Ele é dividido em eixos, o que participo é o eixo autoridade que prevê curso de capacitação para policiais militares, civis e guardais municipais. Para que os profissionais de segurança possam atuar nas áreas de uso da droga com equipamentos que o Governo oferece. Quando o município adere ao programa, ele tem que estar nas conformidades e oferecer o espaço e diagnosticar a área de atuação. O Governo entra com câmeras de monitoramento e em Caxias teremos duas bases móveis. Atuamos com o foco na prevenção, tendo cursos a distância para as autoridades de segurança.
Nos outros dois eixos, assistência e saúde, temos a implantação dos CAPSAD e o Centro POP focado na população de rua.
3. Por que é importante investir nas ações e equipamentos para lidar com os dependentes?
Os equipamentos dão um suporte para as autoridades entenderem a dinâmica, acaba sendo um fator de proteção local, atuando de uma forma mais eficaz. Nas bases móveis por exemplo, temos um alcance muito longo de captura de imagem para identificar de onde surge a venda da droga.
4. Quais os outros municípios que aderem a esse Projeto?
Vários: Magé, Niterói, Rio de Janeiro…
É interessante que o Guarda Municipal se transforma, no curso. A visão dos guardas é normalmente que eles são fracos, bandidos, etc. Acaba não percebendo a ação do sujeito, mas quando ele entra no curso, consegue perceber por estar presente nos CAPS AD e Centro POP e vendo as pessoas buscando tratamento e, reconhece o limite do outro até sair da doença.
5. Qual a importância desse tipo de iniciativa?
Trabalho com prevenção há 20 anos, observando os fatores de risco e atua em cima de um diagnóstico. Mas sei que em muitos municípios ainda estão muito lá atrás, inventando coisas. O Curso de Convivência e Segurança Cidadã que fiz, por exemplo, me apropriei mais da ideia e ampliou minha visão. Além de ajudar a trabalhar a atuação nas políticas públicas.
6. O projeto tem dado resultado?
Em Caxias eu percebo, sem pesquisas, que o crescimento de pessoas envolvidas com o crack continua e as políticas não estão dando conta. Porque não basta uma intervenção específica naquele local. Temos que pensar em algo para atingir a raiz da história. Que ações estamos fazendo antes da pessoa se envolver com drogas? Que ações estamos fazendo para o jovem, o adolescente e as crianças entrarem nisso? É um problema de base. O que interfere muito nisso é a descontinuidade. Se hoje um prefeito, por exemplo, vê como positiva a ação, o próximo pode parar de fazer funcionar e os gestores não prosseguem com aquilo. Então não dá tempo daquilo funcionar, da criança ter uma proteção maior para chegar na adolescência equilibrado. A descontinuidade é um problema no país com relação aos programas de prevenção.