Ginasta do Piscinão vence estadual e se prepara para competir em Goiânia

Esporte, Notícias

Entrevistas: Ana Cristina da Silva, Carolina Vaz e Raysa Castro

Texto Por Ana Cristina da Silva

Aos 10 anos de idade, Geisa Barbosa é uma ginasta que, com menos de dois anos de prática, já conquistou quatro medalhas. Sua história no esporte começou de maneira despretensiosa enquanto brincava de dar estrelinhas na areia do Piscinão de Ramos em 2020, onde chamou a atenção de uma mulher que, ao ver seu potencial, logo a filmou. Até o momento a mareense já participou de três competições, tendo garantido sua segunda medalha de ouro neste sábado (08), em um torneio na Barra da Tijuca. Seu próximo destino será o Torneio Nacional de Ginástica Artística no mês de novembro, em Goiânia/GO. Sem patrocínio, a ginasta do Piscinão de Ramos se vira como pode, conciliando seus treinos puxados com a escola e a venda de pipoca para ajudar na arrecadação de dinheiro para a sua viagem. Seu principal apoio é a mãe, Juliana Jesus Ferreira, que para manter vivo o seu sonho de se tornar uma grande atleta, faz tudo o que pode.

COMO TUDO COMEÇOU

Em 2020, com as dificuldades da pandemia ocasionada pela Covid-19, Juliana se viu desempregada. Pagando aluguel, buscou uma alternativa e foi trabalhar vendendo biquínis de fita no Piscinão. Como Geisa não tinha com quem ficar, acompanhava sua mãe e passava o tempo dando estrelinhas na areia, sem saber que aquilo viria a ser sua porta de entrada para o mundo da ginástica artística. “Uma garota gravou e mostrou pra coordenadora lá do GREIP da Penha, falou que tinha uma menina aqui no Piscinão que ia ser a futura ginasta. Ela viu uma coisa que eu não tinha visto, porque eu achava que eram só umas estrelinhas”, conta Juliana. Pouco tempo depois da gestora Júlia de Carvalho assistir o vídeo, Geisa recebeu um convite para um teste no GREIP, mas os resultados foram melhores do que o esperado. “Esse teste era pra escolinha. A escolinha não é uma equipe, a escolinha é pra aprender e para ensinar ginástica, mas quando a Geisa fez o teste ela já entrou direto pra equipe”.

Aos 10 anos de idade, a moradora do Piscinão de Ramos já é uma ginasta premiada. Foto: Ana Cristina da Silva.

Sem nunca ter praticado, Geisa já entrou na equipe com o desafio de se preparar para uma competição que ocorreria em 5 meses. “Eu fiquei com medo, porque eu não estava acostumada a treinar daquele jeito, mas depois eu me acostumei a treinar firme”, relembra a ginasta de 10 anos. Para sua mãe, o desespero aconteceu logo no início, quando o treinador Herlândio Batista alertou que seria preciso juntar cerca de R$ 6 mil para a competição em Mato Grosso do Sul. No entanto, apesar da dificuldade financeira, tirar a filha da equipe nunca foi uma opção para Juliana. “Quando ela entrou, ela se apaixonou pela equipe. É onde a gente se emociona, né. Por ser filha única ela é muito sozinha. Então quando ela chegou ali ela falou: ‘Mãe, aqui eu vou ter amigas’, ela ia ter uma segunda família. Ela não entendia o que era, mas quando passou um mês ela viu que ali era uma pela outra. Nem se eu quisesse eu ia conseguir tirar ela. Então eu dei um jeito, corremos de um lado, corremos do outro e conseguimos dinheiro para a competição”.

COMPETIÇÕES

Com apenas 5 meses treinando como ginasta, Geisa participou de um campeonato nacional no Mato Grosso do Sul, em novembro do ano passado. Para ela, que se sentiu intimidada pelas atletas que já treinavam há algum tempo na equipe, o nervosismo marcou forte presença: “Minhas pernas estavam tremendo, mesmo depois que eu saí, mas não dava nem para perceber. Eu estava tremendo por dentro! Nos 3 aparelhos eu fui bem, mas no último, que é a trave, eu caí duas vezes e perdi 2 pontos, mas ganhei a medalha na minha primeira competição”, relembra com empolgação. Poucos dias depois, ela participou de um torneio estadual na Barra da Tijuca, onde garantiu sua medalha favorita: a de ouro.

“Nessa primeira competição dela eu fiquei bem desesperada porque tinha muito pouco tempo e eu sabia que as outras meninas estavam bem mais preparadas do que ela. O meu medo não era ela chegar lá e não fazer, o meu medo era como ela ia ficar psicologicamente. Como ela ia reagir ‘poxa, não ganhei uma medalha’, porque pra ela era tudo novo. (…) Aí quando eu cheguei lá, que eu a vi fazendo tudo… Cara, foi uma coisa que, assim, eu falei ‘vale qualquer esforço’. Qualquer esforço, qualquer dificuldade, qualquer luta… Tudo valeu ali naquele momento”.

— Juliana Jesus Ferreira, mãe de Geisa Barbosa.

Geisa Barbosa e a mãe Juliana Ferreira são como melhores amigas. Foto: Ana Cristina da Silva.

Desde então Geisa nunca mais parou. Seus treinos se tornaram mais avançados e a sua vontade de crescer no esporte só aumentou. Sua dedicação e força de vontade a garantiram mais uma vitória: o Torneio Estadual de Ginástica Artística, na categoria infantil, realizado neste sábado. Porém, sem tempo a perder, a ginasta de 10 anos se mantém focada na competição nacional que irá ocorrer no próximo mês na cidade de Goiânia. Devido à falta de patrocínio, ela e sua família precisam arcar com os custos de passagem, hospedagem, inscrição, uniforme e alimentação, que somam um total de, aproximadamente, R$ 5 mil. Enquanto Juliana foi juntando o dinheiro das rifas que realizou e do seu trabalho como manicure, Geisa usou do tempo livre para vender pipoca na praça. Com a ajuda de diferentes pessoas, boa parte do valor já foi arrecadado, mas as mareenses permanecem aceitando ajuda via pix para completar o dinheiro que falta.

A ROTINA DE UMA GINASTA

Integrante da equipe Fênix Gym, Geisa treina no GREIP da Penha três vezes por semana, sendo 5 horas por dia. As 12 integrantes da equipe fazem alongamento e se aquecem antes de começarem a preparação geral. Por último, seguem para uma preparação específica, onde utilizam os diferentes aparelhos, como a barra assimétrica e a trave. Para Geisa, no entanto, o que ela mais gosta de fazer envolve coreografia: “Eu gosto muito de fazer acrobacia com dança. Eu amo o meu solo, acho que o meu solo é o meu preferido”. Entrando recentemente para a categoria infantil, a mareense alega ter evoluído seu solo com acrobacias mais elaboradas. “Na minha série de solo antiga eu tinha a rondada flick, agora eu tenho um mortal com pirueta. A segunda acrobacia era hiber, agora é hiber mortal grupado com meia pirueta”, explica empolgada.

Força e equilíbrio são essenciais no treinamento de Geisa Barbosa. Foto: Ana Cristina da Silva.

Para além dos treinos intensivos, a alimentação de Geisa precisou ser totalmente reformulada, como informa sua mãe. “Mudou muita coisa. Ela come muita batata doce, muito ovo cozido e não bebe guaraná. Todos os tipos de suco que se pode imaginar eu faço pra ela levar para o treino. Aí é um sanduíche natural ou até purê de batata doce pra ela levar”, conta Juliana. Apesar de não gostar nem um pouco de batata doce, a atleta mirim se mantém focada nos seus objetivos e segue com a alimentação recomendada. Porém, nem tudo é fácil. Para trilhar o sonho de se tornar uma ginasta famosa, tal como Flávia Saraiva e Rebeca Andrade, sua maior inspiração, Geisa precisou abrir mão de muitas coisas que fazem parte do dia a dia de uma pessoa comum, principalmente de uma criança. Ir para festas, sair para pegar doce e até brincar na rua são algumas coisas das quais ela abdicou. “Ela abriu mão de quase tudo. O hobby dela é ficar em casa lendo livros. Lê, aí dorme e descansa. Levanta e segue uma rotina normal: café, escola, almoço e treino. Não é de ficar na rua, até porque não pode”, conta Juliana Jesus, de 32 anos.

O PROJETO FÊNIX GYM

Localizado no GREIP da Penha, o projeto conta com uma escolinha com 168 crianças que buscam aprender mais sobre ginástica. Por outro lado, apenas 12 meninas compõem a equipe de mesmo nome ao qual Geisa faz parte. Segundo a moradora do Piscinão de Ramos, elas fazem tudo juntas e se ajudam sempre que podem, mas comemora feliz duas das amizades que conquistou dentro do projeto: “Eu e mais duas meninas somos as mais próximas, porque ficamos juntas o dia inteiro. A gente entra junto, a gente faz a preparação física geral, saímos juntas e qualquer lugar que a gente tiver que ir a gente vai junto”.

Herlândio Batista treina Geisa e mais 11 meninas da equipe Fênix Gym. Foto: Ana Cristina da Silva.

Diferente do trabalho prestado na escolinha, a equipe de ginastas conta com o voluntariado do treinador Herlândio Batista e dos coordenadores Marcelo Vitório, Sandra Farias Barreto e Milena Fernandes. Durante três dias da semana, eles atuam das 18h às 22h ao lado das meninas que possuem entre 4 e 14 anos de idade. O espaço começou simples, com Herlândio, também conhecido pelo apelido de Ceará, levando apenas dois colchões e uma cama elástica. No entanto, recentemente, o local passou por uma reforma e conta agora com uma boa estrutura para que as meninas pratiquem com aparelhos que, em sua maioria, foram conquistados através de doações. Os treinos seguem intensos e das 12 integrantes, 5 estarão seguindo para a competição em Goiânia no mês que vem.

FAÇA UMA DOAÇÃO VIA PIX

Você pode ajudar Geisa Barbosa a chegar no torneio nacional de Goiânia doando qualquer valor via pix.

Chave (CPF): 215.388.797-60

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