Guerra às drogas na Maré
Por Thaís Cavalcante
Discutir políticas públicas e a não proibição de drogas consideradas ilegais no Brasil, inclui diretamente o pobre, negro e favelado. E nada se fala sobre álcool, remédios ou cigarro. Substâncias que matam milhares de pessoas todos os dias.
Grande variedade de drogas pode ser encontrada em uma favela, motivo justificado pelo Estado para a intensa onda de prisões arbitrárias, investimento em forças armadas e a massiva violência contra quem mora em periferias. Quando esse tipo de assunto é uma das vertentes para o extermínio, não é interessante investir em educação, emprego ou saúde para pessoas que tem seu direito violado apenas por morar em uma zona perigosa. Isso é insistentemente colocado pela mídia comercial e reproduzido por pessoas alienadas, consequência do poder crescente de manipulação.
Diretamente criminalizada, a droga influencia no cotidiano dos moradores de favela. No Conjunto de Favelas da Maré, localizado no Rio de Janeiro, desde a política de ocupação militar implantada em 30 de Abril de 2013 até 2014, as ruas foram tomadas por tanques de guerra e soldados fortemente armados. Essa ocupação que se mostra invasiva e desrespeitosa, traz a sensação de falsa paz e segurança, para aqueles que já lidam diariamente com a violência.
Quando a droga é proibida e tratada como caso criminal, o pobre sente na pele por ser negro e é abordado e acusado diariamente, por algo que não é de sua responsabilidade e muito menos resolução. Não é compreensível combater violência com mais violência. Preconceito com mais preconceito.
Infelizmente, o que acontece em torno dessa problemática é mais que repressão. Graças à criminalização das drogas, o direito da vida, da escolha e da paz é retirado. Todos são tratados como criminosos sem chance de defesa. Exterminar aqueles que não são protagonistas principais da riqueza e poder que é o envolvimento com o “crime”, só causa mais descaso, revolta e insatisfação.
Como exemplo, podemos observar panfletos distribuídos por militares da Maré em tempos de militarização: “A força de pacificação está presente para PROTEGER você e sua família”. Típica frase ilusória para aqueles que vivem todo dia a insegurança e abuso de poder dos mesmos. O atual modelo ditatorial e opressor de segurança pública pensado estrategicamente para apresentar um estado seguro e higienizado para a Copa do Mundo e Olimpíadas, não favorece nenhum dos 132 mil moradores que moram do Conjunto de Favelas.
Para um livre consumo de substâncias consideradas ilícitas, a descriminalização deve ocorrer antes da legalização. Já é nítido que a proibição do uso das drogas -questão milenar- nunca funcionou. E o caminho é a discussão, conscientização e o entendimento de que o ser humano tem livre escolha e que criminalizar o pobre não é solução.