Maré x Itália: o clássico Romeu e Julieta contado por corpos mareenses
Por Matheus Frazão
Na foto, os artistas Robert Cândido e Beatriz Monteiro. Foto de Vinicius Alves.
Nos dias 30 de novembro, 1º e 02 de dezembro ocorreu no Museu da Maré o espetáculo “Entre suas diferenças, nasceu o amor”, uma releitura do clássico Romeu e Julieta de William Shakespeare, idealizado pelo coreógrafo Claudio Marcio, que tinha um desejo antigo em montar esse espetáculo. Um fragmento foi feito em 2012, mas somente em 2018 o sonho se concretiza. Claudio começou dançando nos bailes da Maré e no viaduto de Madureira, e uma de suas inspirações quando jovem era o artista Michael Jackson.
A montagem foi feita através da dança, envolvendo desde o hip hop, que é a especialidade do grupo, perpassando pelo ballet clássico e a dança contemporânea. A maquiagem foi inspirada na personagem Arlequim da Comedia Dell’arte. A história do jovem casal apaixonado que aconteceu séculos atrás foi contada por corpos de jovens da Maré, em pleno 2018. Um grupo muito potente que ensaiou durante intensos três meses. Para alguns foi o primeiro contato com a arte, muitos não pensam em seguir o caminho da dança, devido à dificuldade que o artista passa no Brasil por falta de investimento, contudo, a dança serve para a formação dos jovens enquanto seres críticos e na sua formação pessoal. Gabriela Duarte, de 16 anos, conta que “A dança me fez amadurecer, me fez ter responsabilidade, ter um olhar diferente para arte. Eu danço por paixão”. Ao ser questionado sobre a importância do espetáculo para a Maré, o jovem Robert Cândido, de 25 anos, que fez a personagem Romeu, relata o seguinte: “Muitos dos meus amigos nem conheciam o Museu da Maré, quando chegaram para ver a apresentação ficaram empolgados e também querendo fazer parte do grupo, isso me deixou bastante feliz”.
O espetáculo, ao mesmo tempo em que passa pelo clássico, passa pelo afrontamento que o hip hop nos traz, que é dançado em sua grande maioria por jovens da favela. Diante de tanto caos, esses corpos protestam em forma de arte.
O grupo agiu em todo o processo coletivamente, e uma questão importante citada pelos jovens foi a dificuldade financeira. Entretanto, continuaram persistentes, com arrecadação de dinheiro entre eles compraram as máscaras que faziam parte do espetáculo, fizeram cantina, conseguiram parceria para fotografia e maquiagem. Através do desejo coletivo de se fazer arte, a concretude do projeto veio à tona de forma magnifica, e o desejo atual é poder levar o espetáculo para concorrer em festivais.