Moradores recordam o passado nos 18 anos do Museu da Maré
Por Carolina Vaz
Foto de capa: Raysa Castro
Mareenses de diversas gerações se reuniram para comemorar o aniversário de 18 anos do Museu da Maré, no último dia 22, no tradicional evento do Chá de Memórias. Eram moradores convidados, turmas do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA Maré), amigos do Museu, entre outros que foram prestigiar. Segundo a coordenadora do Museu Cláudia Rose, essa tradição vem dos anos 1980, quando a equipe da TV Maré entrevistava moradores antigos e começou a registrar suas histórias relativas ao passado do bairro.
Os Tempos, memórias e expectativas
Como acontece todo ano, a equipe do Museu dispôs objetos antigos, que compõem o acervo local, em cima de um tecido para ativar as memórias da Maré das palafitas. Porém, escolheu uma estratégia diferente para motivar as pessoas a falarem de suas lembranças e expectativas: os Tempos. Quem frequenta o Museu sabe que a exposição de longa duração é dividida em 12 Tempos, então a equipe deixou que cada pessoa escolhesse um Tempo para escrever ou falar uma memória. Algumas escolheram o Tempo do Medo, falando das injustiças que acontecem no território e as operações policiais que ameaçam a vida da população.
Teve também muito saudosismo, com o Tempo da Criança que despertou a nostalgia das festas de aniversário de 30 anos atrás, e também o Tempo da Casa. A professora Helaine Alves falou do Tempo da Casa, demonstrando sua paixão pela casa de palafita instalada na exposição do Museu, que a faz reconhecer objetos de sua infância. Uma delas, que estava excepcionalmente fora do lugar para adornar o evento, é a bacia de alumínio. “Essa bacia me lembra que quando eu era pequenininha minha mãe lavava louça na bacia. A gente morava numa casa pequena, que só tinha um cômodo, e essa bacia é pra mim uma recordação muito profunda”, contou.
Alguns objetos dispostos ali também levantaram falas sobre passado e futuro, como o “pente quente”, um pente de ferro que, décadas atrás, era aquecido no fogão para ser usado no alisamento do cabelo crespo. Quem falou sobre ele foi a arte-educadora Renata Tavares: “Isso aqui é um objeto de tortura pra quem é preto, pra quem é preta, que não podia falar sobre suas raízes e de onde vieram. Mas é um objeto talvez de resistência, para que a gente siga acreditando na nossa ancestralidade, na nossa história que tentaram apagar mas agora a gente está retomando”.
Houve muitas falas sobre o Tempo do Futuro, nas quais as pessoas expressaram desejo de uma vida melhor no bairro, com mais paz e respeito entre as pessoas. O adolescente Ysake Rosa expressou seu desejo de que a Maré se torne um bairro com mais acessibilidade, para que ele não tenha tantos obstáculos para circular na sua cadeira de rodas. Ele desejou para a Maré mais segurança, confiança para sair de casa, respeito, com menos bullying e desigualdade. Valéria Oliveira, do grupo Especiais da Maré, reiterou: “No Tempo do Futuro esperamos estar em todos os lugares com acessibilidade, respeito e inclusão para todos”. O Tempo da Fé também foi mencionado, com esperança de que haja menos intolerância religiosa no território.
No final, como em todo aniversário, teve Parabéns para o Museu da Maré, seguido por salgadinhos, refrigerante e bolo para o público confraternizar.