O Legado de Marielle na Maré

Geral, Memória

Esta é a segunda parte da homenagem a Marielle Franco pelo Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM). Para ler a primeira parte, “Marielle Franco: três anos de saudade na Maré”, clique aqui.

Cinco meses após o assassinato de Marielle, seis de seus projetos de lei foram aprovados na Câmara Municipal: o Programa de Espaço Infantil Noturno (Espaço Coruja); a criação da campanha de enfrentamento ao assédio e violência sexual nos transportes; o Dia Municipal de Luta contra o encarceramento da Juventude Negra; o Dia de Tereza de Benguela e da Mulher Negra (25 de julho); o Programa de Efetivação de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto; e a criação do Dossiê Mulher Carioca.

Em 2018, três mulheres negras que antes compunham a mandata de Marielle tornaram-se deputadas estaduais. Além de Dani Monteiro e Mônica Francisco, tornou-se parlamentar também Renata Souza, mareense, jornalista, que por muitos anos atuou no Jornal O Cidadão. Ela e Marielle tinham uma amizade de anos, tendo se conhecido no CPV. Renata Souza foi eleita com 63.937 votos. No ano passado, a companheira de Marielle, Monica Benício, foi eleita vereadora.

 

Da esquerda para a direita: Mônica Francisco, Renata Souza e Dani Monteiro. Foto: Reprodução/Facebook.
Monica Benício, eleita vereadora em 2020. Foto: Reprodução/Facebook.

Na Maré, Marielle deixou muito mais do que saudades. Um mês após o assassinato, o Curso Pré-Vestibular (CPV-CEASM) realizava sua homenagem, com o sarau Eu Sou Porque Nós Somos. Contou com apresentações teatrais, orquestra de berimbaus, desfile afro, exposição de fotos de Marielle, varal de poesias, oficinas e apresentações musicais. Também houve a inauguração, em 1º de agosto de 2019, da Escola Municipal Marielle Franco, na comunidade Salsa e Merengue.

No Museu da Maré, a brinquedoteca Marielle Franco foi inaugurada em 2019, assim como a exposição temporária “Tempos de Marielle”, composta de quadros pintados pelo artista plástico Marcondes Rocco. Os belos quadros retratando Marielle, tanto sozinha quanto com sua família, tornaram-se cenário de numerosos eventos do Museu.

Sarau “Eu sou porque nós somos”. Foto: arquivo de Angela Santos.
Brinquedoteca se tornou um novo espaço para atividades recreativas no Museu. Foto: Maria Gabriela Duarte.
Exposição temporária com quadros de Marcondes Rocco. Foto: Museu da Maré.

No Carnaval de 2019, Marielle se tornou tema de samba-enredo do bloco mareense Se Benze Que Dá, com o título “O amor impera”. Ela havia sido uma das fundadoras do Bloco, em 2005, e tanto ela quanto a filha participavam. No mesmo ano, a vereadora também foi homenageada nos sambas da Vila Isabel e da Estação Primeira de Mangueira. A Mangueira foi a vencedora dos desfiles naquele ano.

A família de Marielle criou o Instituto Marielle Franco, dirigido por sua irmã, Anielle Franco, com o objetivo de buscar justiça sobre o caso, defender a memória da vereadora e multiplicar seu legado. Outra iniciativa, essa de comunicação, foi a criação do Dicionário de Favelas Marielle Franco, também chamado de Wikifavelas, voltado para a produção de verbetes sobre a realidade das favelas e periferias. É formado por uma rede de parceiros, incluindo o CEASM, que fornecem informação qualificada.

Marielle é saudade… Marielle é semente!

Marielle é semente! Hoje, 14 de março de 2021, mareenses e pessoas de outras partes da cidade se reuniram às cinco horas da manhã para o ato “Amanhecer por justiça para Marielle e Anderson”, e caminharam pela Avenida Brasil colocando faixas nas passarelas em homenagem à vereadora. O ato foi uma iniciativa do Núcleo PSOL-Maré Marielle Franco.

Ato do Núcleo PSOL – Maré Marielle Franco começou o dia espalhando faixas pela Avenida Brasil. Foto: arquivo de Flavinha Cândido.

Marielle é semente em todas as mulheres negras, trans, progressistas que foram eleitas parlamentares nas eleições de 2018 e 2020.

Marielle é semente no caderno pedagógico lançado pelo Museu da Maré recentemente, onde Marielle representa o Tempo do Futuro. Tempo que começa hoje e que aponta para as conquistas que só serão possíveis graças às nossas lutas.

Marielle é semente nas milhares de ações culturais que, durante a pandemia, estão sendo fomentadas pela Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, articuladas por um movimento que envolveu trabalhadoras e trabalhadores da cultura e as parlamentares Benedita da Silva e Jandira Feghali.

Marielle é semente para quem permanece firme na luta diária pela ampliação de direitos para todo, principalmente para as minorias.

 

“O que mais nos atormenta nesses 3 anos é saber que a gente perdeu uma amiga muito querida, uma pessoa que tinha uma vida para ser explorada. É uma data para lembrar, um momento de reflexão e de ação, tanto para a resolução total do caso dela quanto para evitar que ocorra novamente”.
Lourenço Cezar, diretor do CEASM e amigo de Marielle

 

“O trauma causado pela perda violenta e precoce da Marielle foi compartilhado por tanta gente ao redor do mundo, que acabou gerando um movimento poderoso de afetos e ações coletivas, sendo transformado em clamor por justiça. Marielle virou semente e sua memória permanece viva, inspirando nossas lutas”.
Cláudia Rose, diretora do Museu da Maré

 

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