Pesquisa Vacina Maré comprova eficácia da AstraZeneca contra a Covid-19
Por Ana Cristina da Silva, com informações da Agência Fiocruz de Notícias
Ano passado a Maré comemorou por ser a primeira favela do Brasil a receber uma campanha de vacinação em massa da Covid-19, onde mais de 83 mil doses de AstraZeneca foram administradas na população adulta. Agora em 2022, outro ponto a ser comemorado é a eficácia de proteção deste imunizante. A comprovação vem da pesquisa Vacina Maré, realizada pela Fiocruz, que vem acompanhando o caso da população mareense desde janeiro de 2021. Em seu resultado, a pesquisa afirma que a taxa de proteção contra Covid-19 sintomática aumenta consideravelmente após 14 dias da aplicação da segunda dose do imunizante, contribuindo para a diminuição de mortes, hospitalizações e contaminações da doença em todo o bairro. Reafirmando tudo isso, dados disponibilizados pelo Painel Rio Covid, da Prefeitura, informam que de 30 de outubro do ano passado até 18 de janeiro deste ano não houve óbito decorrente da doença na Maré.
Dados da pesquisa
O resultado da pesquisa, publicada recentemente na revista Clinical Microbiology and Infection, é referente a um trabalho de verificação feito entre 17 de janeiro e 27 de novembro de 2021, período com predominância das variantes Gama e Delta na Maré. Para obtenção dos resultados, o método utilizado foi o desenho de teste negativo (TND), que compara pacientes que testaram positivo para Covid-19 com pacientes que não testaram positivo. Assim sendo, foram analisados 10.077 testes RT-PCR, onde 64% eram sintomáticos e 36% eram assintomáticos. Com isto, se conclui que 30 dias após a aplicação da primeira dose da AstraZeneca, a proteção contra covid-19 sintomática é de 31,6%, enquanto que com 14 dias após a segunda dose essa taxa sobe para 65,1%. Para Fernando Bozza, pesquisador da Fiocruz e coordenador do estudo, é preciso ter em mente que a proteção da vacina vai muito além disso: “A vacina protege em todos os níveis: da morte, da hospitalização e da aquisição do vírus ou adoecimento. Claro que esses níveis são diferentes: aqui, estamos falando de 65% contra aquisição depois da segunda dose. Quando olhamos para hospitalização e morte, isso sobe para mais de 80, 90%”.
A fim de descobrir se a eficácia da vacina alterava de acordo com a idade, o estudo realizado na Maré separou dois grupos: no primeiro se encontravam pessoas com menos de 35 anos, enquanto que no segundo estavam as pessoas de 35 anos para cima. Diante desta análise a conclusão foi de que nos mais jovens (aqueles com menos de 35 anos) a proteção após a segunda dose é de 89,2% contra a Covid-19 sintomática. De 35 anos para cima, a efetividade da vacina é de 55,6%. “Há alguns fatores envolvidos, até da resposta imune, de como os idosos montam essa resposta imune vacinal. Nos estudos de soroconversão, verificamos que eles desenvolvem menos anticorpos que os jovens após a vacinação. Seguramente, eles precisam mais da dose de reforço, assim como os imunossuprimidos”, explica Bozza.
A campanha de vacinação e as próximas etapas da pesquisa Vacina Maré
A possibilidade e assertividade da pesquisa Vacina Maré começa lá atrás, com o início da campanha de vacinação. Em janeiro de 2021 o país inteiro comemorava a vacinação contra Covid-19 que teve início pelos grupos prioritários. Na Maré, ao final de julho de 2021, 38% da população já havia recebido uma primeira dose. Porém, o destaque fica para a cobertura da vacinação em massa que, entre os dias 29 de julho a 1º de agosto, aplicou 36 mil primeiras doses da AstraZeneca, seguindo com a aplicação da segunda dose nos dias 14 a 16 de outubro. Com esse feito, foi alcançada uma cobertura de 93,4% de adultos vacinados com duas doses dentro do território. Agora em 2022, os efeitos dessa campanha podem ser percebidos com mais clareza: “provavelmente, essa vacinação em massa foi fundamental para impedir a expansão da Delta. Tivemos o grande pico da Gama no Brasil, na virada de 2020 para 2021 e, em seguida, a introdução da Delta. Na Maré, esse pico de Delta praticamente não aconteceu, provavelmente porque a vacinação já foi efetiva em bloquear essas cadeias de transmissão”, explicou Bozza.
A pesquisa Vacina Maré é conduzida pela Fiocruz em parceria com o Departamento de Engenharia Industrial da PUC-Rio, o Instituto de Saúde Global de Barcelona e a Prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Municipal de Saúde. Conta com o apoio da Redes da Maré e do Projeto Conexão Saúde – De Olho na Covid e o financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates. O estudo, que segue em andamento, pretende na próxima etapa avaliar a efetividade da vacina em relação à Ômicron e à dose de reforço.