Professores do C.E. Olga Benário protestam contra calor na sala de aula
Por Carolina Vaz
Foto de capa: Ana Cristina da Silva
A última quinta-feira (26) foi um dos dias mais quentes de setembro no Rio de Janeiro, e também o dia em que professores do turno da manhã do Colégio Estadual Olga Benário Prestes, em Bonsucesso, decidiram se manifestar contra a falta de ar condicionado nas salas. Neste mesmo dia, já previsto como um dos mais quentes do mês, um grupo de alunos faltou em protesto ao desconforto térmico na escola. Registrou-se, na cidade, a temperatura máxima de 38,9 graus.
O protesto se dá porque os 53 aparelhos de ar condicionado necessários existem, e estão armazenados na escola desde março deste ano, porém a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC) não viabiliza a instalação dos mesmos nas salas de aula. São cerca de 2.500 alunos sofrendo com o calor, assim como os professores, trabalhando em péssimas condições. Cerca de 80% dos alunos do “Olga” moram na Maré.
Aprendizado deficitário
O professor de Língua Portuguesa Eduardo Muniz conta que é difícil fazer o conteúdo programático das aulas avançar, porque os alunos ficam desmotivados, têm dificuldade de prestar atenção, e são justamente alunos de Ensino Médio que precisariam aprender todo o conteúdo para se destacar no ENEM e vestibular. “Isso impacta que o aluno, quando vai prestar o vestibular, ele sai daqui com uma base de conteúdo de 40, de 30% no máximo… a gente teria que dar 100, até 110 porque é escola pública. Então aqui você tem esse calor, você tem toda a falta de infraestrutura que não motiva o aluno a vir pra cá”, comenta. O problema se soma ao fato de muitos dos alunos já não poderem ir às aulas, muitas vezes, em virtude das operações policiais. Quando podem, não têm as condições adequadas de aprendizagem.
Pior ainda é nas aulas de Educação Física, como conta a professora Bárbara Cristina Souza. Com esse calor, praticar exercícios ao ar livre pode fazer o aluno passar mal, então ela acaba tendo que dar aula teórica na sala de aula, o que também não resolve muito, já que não tem o ar. “Os alunos têm muita dificuldade de prestar atenção, de se concentrar. É uma necessidade realmente, não é luxo, né? A gente ter o ar condicionado nas salas é uma necessidade”, ela desabafa. Outra reivindicação no Olga é que a escola tem uma enorme piscina que não pode ser usada, uma vez que a SEEDUC não disponibiliza um guardião que possa tomar conta do fluxo de crianças e adolescentes na piscina. É uma piscina “só para a foto”, e nas palavras da professora, um desperdício.
Escola já foi climatizada
Os professores e já observam que, ao longo do ano, os alunos vão para outras escolas climatizadas, assim como há menos matrículas no início do ano. Camila de Andrade, professora com formação em Matemática, leciona no Olga desde quando a escola tinha dois meses de inaugurada, e conta que este nunca foi um problema: “A gente não tinha essa evasão dos alunos, principalmente para fora de sala de aula, pelo contrário. Às vezes era uma briga porque dentro de sala de aula era frio, era totalmente diferente”. Hoje, os professores não sabem se é pior ficar com o ventilador ligado, disputando a voz com 40 alunos e o barulho de três ventiladores circulando ar quente, ou deixar tudo desligado de uma vez.
O que aconteceu foi que, enquanto a escola estava fechada em virtude da pandemia, em 2020, a estrutura de ar condicionado foi furtada do Olga, e apenas no início de 2024 a Secretaria de Educação comprou os aparelhos, mas seis meses se passaram e ainda não houve instalação.
Os professores aderiram, então, à campanha “Sauna de aula não!”, do Sindicato dos Profissionais da Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEPE-RJ). Igor da Costa, professor de Geografia do Olga e diretor da regional 4 do SEPE, conta que o problema da climatização atinge várias escolas estaduais, muitas delas com obstáculos estruturais, como a rede elétrica que não suporta o ar, mas no Olga o problema é apenas burocrático. Segundo ele, o SEPE atua pressionando a Comissão de Educação, uma das comissões de deputados da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) para que esta também pressione a Secretaria de Educação.
A pressão, na última quinta-feira, surtiu algum efeito: os professores receberam o deputado estadual Flávio Serafini, presidente da Comissão de Educação, que demonstrou preocupação com a demora da SEEDUC em resolver o problema: “Se não [resolver], o próprio fato de ter entregue os aparelhos de ar condicionados vira um problema, porque eles começam a perder a garantia e, quando forem instalados, se der algum problema piora a situação”.