Projeto Maré do Bem Viver trabalha com saúde, educação e assistência dentro do território
Na terça–feira (19) a equipe falou sobre o andamento do projeto durante uma reunião com representantes da Fiocruz
Por Ana Cristina da Silva
O projeto “Maré do Bem Viver: direitos, cuidado e cidadania” foi conquistado na seleção, no ano passado, da Chamada Pública para Apoio a Ações Emergenciais de Enfrentamento à COVID-19 nas Favelas do Rio de Janeiro, e conta com o apoio da Fiotec, Fiocruz e Governo Federal. O projeto visa atender 150 famílias dentro do território ao fazer um acompanhamento psicossocial com a atuação de profissionais da área da psicologia, nutrição e serviço social. Tendo o Maré do Bem Viver começado em outubro do ano passado, na última terça-feira (19), a equipe do projeto organizou um encontro com Richarlls Martins e Valcler Rangel, representantes da Fiocruz, para apresentar algumas questões como as dificuldades observadas pela equipe durante o contato com as famílias, os impactos do projeto e também seus resultados. A reunião aconteceu pela manhã em uma das salas de aula do CEASM e contou ainda com a presença de Flavinha Cândido, coordenadora do grupo de trabalho do mandato da deputada estadual Renata Souza, que, por sua vez, também esteve presente.
Atualmente a equipe faz o acompanhamento de 137 famílias, totalizando, aproximadamente, 409 pessoas atendidas pelo projeto que se divide em 3 eixos: educação, saúde e assistência. Ao conduzir a apresentação, Bruna Gabriela, coordenadora e psicóloga do Maré do Bem Viver, revelou que o número de famílias poderia ser muito maior se não fossem outras urgências do território: “Temos 260 indicações de famílias, mas muitas não aceitam participar, a primeira pergunta que fazem é se tem doação de cesta básica. Como não se trata de um projeto que trabalha diretamente com essa distribuição, a gente entende que isso não incentiva a participação de alguns, porque sabemos que primeiro vem a fome e depois as outras questões”. Para a equipe há ainda os problemas de acessibilidade, onde moradores de determinadas favelas têm medo de ir para o Morro do Timbau, onde ocorrem os grupos terapêuticos, mas revelam que a menção da parceria com a Fiocruz tende a facilitar todo o processo.
O Maré do Bem Viver vem trabalhando com rodas de conversa sobre violência doméstica e também com três grupos terapêuticos: um grupo para mulheres, um para jovens e outro para crianças. A ideia é que estas rodas aconteçam duas vezes por mês, onde na primeira estará presente uma psicóloga e na segunda uma assistente social. “A gente foi percebendo que as pessoas não falavam logo de cara, que algumas nem se aproximavam da reflexão do seu próprio sofrimento, então a gente achou interessante separar os grupos para que isso fosse facilitado e a gente pudesse conversar melhor sobre isso”, explica Bruna Gabriela.
Com base nas respostas das 137 famílias atendidas pelo projeto, a equipe levantou alguns dados que apresentaram questões como a taxa de abandono escolar, desemprego, falta de informação e acesso a benefícios sociais. “Acho que o nosso projeto chega nesse momento providencial, onde há uma troca de nomes de programas, como o Auxílio Brasil, e a gente tem a possibilidade de explicar e tirar dúvidas de muitas famílias, seja pessoalmente ou através de lives”, diz Bruna. Alguns dos dados exibidos revelam que 28,5% das famílias têm todos os integrantes desempregados, tornando ainda mais incisiva a busca por doação de alimentos. Por outro lado, enquanto apenas 11% apresentam abandono escolar, a grande maioria das famílias conta com um acesso à internet limitado, fazendo com que a escolarização se torne precária.
Tendo em mente os principais problemas e dificuldades das famílias que atendem, a equipe também se dedica a trabalhar com uma orientação efetiva, assim funciona com a nutricionista Elizabeth Dias que diz que é importante abordar a segurança alimentar respeitando o momento atual, afinal, “é muito fantasioso você pedir para a pessoa se alimentar de forma saudável, porque a pessoa está se alimentando com o que ela tem ali”. Elizabeth esclarece ainda que tem como objetivo falar de saúde desmistificando algumas questões muito recorrentes na nutrição, como a questão do peso e emagrecimento: “eu quero passar justamente essa ideia de que agora o peso não é importante, o importante é a saúde, e como que, nesse universo que a gente tá atualmente, como que a gente consegue ser um pouco melhor com aquilo que consumimos hoje”.
Ao final da apresentação do projeto, ambos os representantes da Fiocruz se mostraram muito satisfeitos com o que descobriram. Segundo o coordenador de Relações Institucionais da Fiocruz, Valcler Rangel, o que o projeto vem fazendo é “uma leitura do território de maneira muito cuidadosa” que permitirá que cada vez mais pessoas sejam alcançadas para lidar com questões tão centrais quanto as abordadas pelo grupo terapêutico e nutricional. Para Richarlls Martins, o que o Maré do Bem Viver vem fazendo é uma “articulação de rede” ao considerar as parcerias que a equipe vem fazendo com outros projetos, como a cozinha do Frente Maré e o Espaço Casulo, transformando isso em potência. “Não posso deixar de considerar também o quanto o projeto de vocês tem uma característica muito importante, afinal, vocês fogem do convencional pensando a multidisciplinaridade, juntando serviço social, psicologia e direito, com todo mundo pensando em como essas famílias podem compreender tudo isso, trazendo esse direito a saúde em sua totalidade”, declarou o coordenador executivo do Plano Fiocruz de Enfrentamento à Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro.