Mulheres negras se mobilizam para marchar contra o racismo
Por Sandra Martins
Provocar reflexões sobre o preconceito racial e divulgar a Marcha das Mulheres Negras 2015 – Contra o Racismo e a Violência e Pelo Bem Viver, no dia 18 de novembro, em Brasília. Estes foram os principais pontos defendidos no lançamento oficial da Marcha na Central do Brasil na última sexta-feira, 6. Outras reuniões de mobilização estão ocorrendo em vários municípios, como a que aconteceu no dia seguinte, sábado, na quadra do GRES Cubango, em Niterói.
O tema deveria ser pauta política e de toda a produção midiática. Mas, não o é. Ele é alçado às manchetes, conforme o grau de violência. Mesmo no período em que se homenageia o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, as mulheres negras continuam sendo desvalorizadas, só que simbolicamente: ou invisibilizadas ou aparecem como excluídas e vítimas de violência. Quando muito, pode aparecer em uma ou outra nota como um “case” de sucesso por sua perseverança e determinação para vencer as vicissitudes impostas por sua “raça culminada com a classe social”.
Este tipo de violência simbólica, danosa à autoestima de uma criança que não se vê positivamente na TV brasileira, é um dos temas debatidos ao longo das mobilizações da Marcha das Mulheres Negras 2015. E, foi o que ocorreu na Central do Brasil, estação ferroviária por onde passam milhares de passageiros para todas as regiões do Estado. Mulheres – de todas as classes sociais, idades, denominações religiosas e políticas.
Na pauta, o fim do feminicídio de mulheres negras, pela visibilidade e garantia de vida, pelo fim dos critérios e práticas racistas e sexistas no ambiente de trabalho, combate à violência, contra o racismo e a intolerância religiosa. Durante todo o dia, milhares de pessoas que se dirigiam à estação de trens foram informadas sobre estas reivindicações.
Depoimentos
O racismo atinge a todas independentemente de classe social ou grau de instrução. É o que coloca a ativista Maria Alice Santos, que atua no município de São Gonçalo. “O racismo não é restrito às classes menos favorecidas. Tanto mulheres negras de favelas como de todas as classes sociais sofrem racismo no seu cotidiano.” Para ela, é fundamental mostrar que estas questões não são restritas a determinados segmentos da sociedade, desta forma, todas poderão compreender as diversas facetas da opressão e do racismo no cotidiano.
Rosália Lemos, da coordenação estadual da Marcha e do Comitê Impulsor de Niterói, espera que esta Marcha sacuda o governo brasileiro: “não é possível continuarmos com os índices tão baixos com relação à mulher negra e que nada seja feito efetivamente e nem pontualmente para transformar esta realidade.”
Chamar a atenção para o combate à lesbofobia, o sexismo e o racismo fundamentaram a participação de Marcelle Esteves, Conselheira Estadual do Conselho LGBT e da organização da Marcha, que vê como fundamental a representação deste segmento no movimento nacional. “Há um verdadeiro massacre dessas mulheres pelo machismo e o racismo nos dias de hoje”.
Entre uma apresentação musical e de dança, feministas negras chamavam a atenção das pessoas para a situação em que se encontram as mulheres que perdem filhos, maridos, pais assassinados. Com a perda, tendem a parar de estudar para assumirem a responsabilidade da manutenção da família. Para ajudar a “fazer a cabeça” foram disponibilizadas oficinas de turbantes e lenços. A pessoa escolhia um tecido, aprendia a fazer o arranjo e já saía arrumada: um verdadeiro sucesso que realmente fez a cabeça das mulheres presentes.
“A grande Marcha é uma forma de fortalecer as discussões por políticas públicas envolvendo a questão de gênero, raça, combate à intolerância religiosa, ao racismo, entre outras demandas. Queremos acesso à saúde de qualidade, ao trabalho, à assistência social, à aposentadoria,” disse Deusimar de Oliveira, coordenadora estadual do Coletivo de Entidades Negras.
De acordo com Ignêz Teixeira, Superintendente de Promoção da Igualdade Racial de Nilópolis e integrante da coordenação estadual da Marcha, o lançamento na Central do Brasil vem envolvendo articulações com mulheres de variados segmentos e cidades, bairros, comunidades. “A ideia é capilarizar a mobilização para que possamos levar milhares de mulheres negras para a grande Marcha em Brasília.”
As reuniões estão acontecendo em várias partes do Estado, como ocorreu no sábado, 7, no município de Niterói, organizado pelo Comitê Impulsor daquela cidade. No domingo, o palco foi a Quinta da Boa Vista. “O aprendizado durante o processo é riquíssimo. Estamos construindo novas redes para avançar com a mobilização onde está a mulher negra. Em breve, teremos em São João de Meriti, Tanguá, São Gonçalo, entre outros espaços. O importante é que todas as mulheres negas compreendam e participem falando, experenciando, trocando. E que todas as mulheres negras ou não participem da luta contra o racismo, o feminicídio, as intolerâncias”, enfatizou Ignêz Teixeira, ao convocar a todas para a Marcha da Mulher Negra 2015 – Contra o Racismo e a Violência e Pelo Bem Viver, em Brasília, dia 18 de novembro deste ano.
(*) Jornalista, da Cojira-Rio/SJPMRJ e integrante do Comitê Impulsor de Niterói da Marcha das Mulheres Negras 2015