”Se Benze que Dá” completa 10 anos
Por Miriane Peregrino
O bloco de carnaval da Maré, Se Benze que Dá, completou dez anos em 2015 e passou por um dos momentos mais tensos da sua história no desfile deste ano. O conjunto de favelas da Maré começou o mês de fevereiro sob muita tensão e violências promovidas pela Força de Pacificação que ocupavam a Maré desde abril do ano passado. No dia do desfile do bloco, 21 de fevereiro, uma van de passageiros foi alvejada pela Força de Pacificação. Na semana anterior, um pedreiro havia sido assassinado por ser confundido com um traficante.
Desde sua criação, o bloco tem como objetivo transpor as fronteiras que a existência de diversas facções no conjunto de favelas impõe aos moradores. No carnaval, a Força de Pacificação se revelou mais uma fronteira dentro da favela e com uma força muito mais perturbadora. Na altura do Pontilhão, havia sirenes e luzes vermelhas ligadas. Nos tanques e trincheiras, soldados armados miravam os foliões. Sob muita tensão, o bloco conseguiu concluir o percurso do desfile.
“O Bloco Se Benze que Dá surge para reivindicar justamente o direito de ir e vir do morador favelado, ainda antes de qualquer intenção de militarização da favela”, conta Glenda*, moradora da Maré. Ela explica que enquanto o caveirão passava na favela com um alto-falante dizendo “Sai da rua morador”, os foliões iam para a rua dizendo “Vem pra rua, morador”. “O nome ‘Se Benze que Dá’ vem justamente daí. Se benze que dá pra passar. Temos mostrado que dá para passar. Que é importante e necessário passar. Que não temos que aceitar como natural qualquer ‘fronteira’, qualquer ‘tarifa’, qualquer ‘muro’, sejam eles construídos por quem quer que seja. Temos o direito de circular no espaço em que vivemos”, explica a moradora.
Ela conta, ainda, que nesse ano estavam muito desanimados para desfilar. “As fronteiras se multiplicaram, está cada vez mais difícil nos mobilizar, mas resolvemos manter o nosso desfile. Mais uma vez percebemos o quanto era importante ter feito isso”, desabafa. Ela relata como o desfile do bloco foi interrompido por vários tanques do exército, em uma clara atitude de afrontamento. “Ali não tinha como recuar. Era a materialização da nossa luta. Fomos em frente e, ao chegar em baixo da ponte, os soldados se perfilaram em nossa direção. Continuamos tocando, e atravessamos. Foi muito importante pra gente. Naquela manhã uma kombi de passageiros tinha sido metralhada na entrada do Pinheiro. Precisávamos dizer que continuamos vivos”, explicou.
O lema do bloco é “Diversão sem alienação. Pelo Direito de Ir e Vir! Se Benze que Dá!!”. Dele participam moradores e amigos da Maré, em um embalo carnavalesco que também é um instrumento de luta política e cultural.
*Nome fictício, usado a pedido da moradora.