Cultura e História ao ar livre – Alunos do CEASM têm aulão em Petrópolis
Por Simone Lauar e Diana Osório
O Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) promove a educação popular desde seu início, em 1997. O Curso Pré-vestibular, chamado de CPV, foi se desenvolvendo e hoje tem 37 educadores, alguns até ex-alunos do projeto. Todos são voluntários, o projeto não tem nenhum tipo de financiamento a não ser uma taxa de 30 reais por mês, que nem todos os alunos têm como pagar. Também são feitos saraus, que uma vez ao mês arrecadam dinheiro para manutenção do curso e para custear a ida aos “aulões” ao ar livre em lugares históricos ou pontos turísticos.
Um desses aulões foi realizado em Petrópolis no dia 09 de julho, domingo. Foram utilizados dois ônibus que levaram alunos do curso e professores, dentre eles Flávio Paixão e Amanda Dantas, que ensinam Biologia; Humberto Salustriano, Francisco Overlande e Antônio Carlos Vieira, professores de História; e Marcos Vinícius da Silva e Luiz Lourenço, que são professores de Geografia.
A primeira parada foi na horta orgânica da senhora Fátima Nogueira no Bairro de Corrêas. Sua filha, Poliana, de 24 anos e universitária, disse que é a terceira geração da família que comanda a horta. Eles fornecem alimentos para grande parte de Petrópolis, com o diferencial de não utilizar nenhum tipo de pesticidas, somente adubo para beneficiar a terra.
Lá os alunos receberam aula da história local e aprenderam sobre a importância de consumir alimentos sem agrotóxicos. Saindo da horta, os alunos foram para o centro de Petrópolis para visitar o Palácio de Cristal, onde tiveram aula sobre história colonial, economia e imigração.
Logo após o almoço, o grupo se dirigiu ao Palácio Imperial, onde a aula do professor Antônio Carlos tratou da história de Petrópolis, comentando a procura, antigamente, de pessoas pela cidade em busca de suas ótimas condições nos sistemas de saúde e turismo.
Amanda Dantas, de 27 anos, ex-aluna do CEASM e professora voluntária do projeto há seis anos, fala da importância do aulão: “É importante os alunos se conectarem com o território e significarem as ações que a gente tem. É muito legal ver a reação deles, que saem impactados e comentando. O olhar aqui é totalmente diferente”. A possibilidade de ligar teoria e prática na aula de campo foi destacada pelo aluno Luciano Pereira, de 28 anos: “O diferencial é ver o que aprendemos em sala de aula, conhecendo lugares importantes para a nossa história e fazendo amizades”.
O professor Flávio Paixão, rapper e voluntário do projeto desde 2016, acha importante os pré-vestibulares comunitários porque representam para os alunos de comunidade a oportunidade de acessar a graduação, e completa: “Volta aquela marcação de que faculdade é muito elitista, tem uma cor, uma classe ali presente. Quando eu cheguei na Maré e vi 150 alunos por ano, vi que era um trabalho muito forte e gratificante”. Muitos mareenses vêm no CPV a oportunidade de retomar os estudos e alcançar aquilo que um dia não acharam possível, como Elisa Mesquita, de 40 anos, moradora da Baixa do Sapateiro: “Eu entrei no CPV com o intuito de ingressar na faculdade. Não tive oportunidade de entrar ‘na idade’ por questões familiares, o momento agora é esse, para incentivar também as minhas filhas. Por ser moradora de comunidade não tenho condições de pagar um curso, e o CPV abriu esse espaço. As aulas de campo abrem uma amplo conhecimento, é ótimo, é fácil. Quando se chega numa determinada idade, você não tem a mesma facilidade que um jovem tem para assimilar certas coisas, no meu caso são 20 anos sem estudar, a dificuldade é muita, mas eu aproveito todo esse espaço”.
O pré-vestibular do CEASM também resgatou a fé e despertou o interesse de mais jovens, como Anderson Ricardo, de 19 anos, morador da Vila do Pinheiro: “O CPV abriu a minha visão para o ensino superior e eu vejo que sim, todos podem cursar a faculdade, é só você se esforçar. Nas aulas de campo botamos em prática, vendo o que aconteceu historicamente. Acho bastante importante para o aprendizado, fixa mais na mente”. Rafaela Costa, de 18 anos, que mora na Baixa do Sapateiro, concilia o curso com trabalho em prol de seus objetivos: “Pretendo cursar Medicina, mesmo chegando cansada do trabalho tenho a oportunidade de aprender. Eu não tive um ensino bom, então muitas coisas estou aprendendo no CPV e tenho certeza que vai me ajudar nas provas”. Esse projeto ainda proporciona aulões em partes históricas do Rio de Janeiro e em Ouro Preto (Minas Gerais).
CEASM: 22 anos de resistência
O CEASM (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré) é uma organização não governamental que foca na cultura e na educação da comunidade. Começou em 1997 e surgiu com o desejo de alguns moradores de fazer um Curso Pré-Vestibular na Maré. A primeira sede do projeto foi uma parceria com a igreja São José dos Navegantes, onde havia salas de aulas próprias para os alunos. Hoje se tornou um grande exemplo, nesse momento de crise que está vivendo a educação brasileira. E nós da comunidade agradecemos que ainda existam pessoas que acreditam nos jovens.