Museu da Maré comemora seus 12 anos com Maratona Cultural
Uma visita guiada à exposição permanente “Tempos da Maré” deu início à Maratona Cultural, uma grande comemoração aos 12 anos do Museu da Maré, no Timbau. O evento realizado na última terça-feira, 08 de maio, começou à tarde e terminou à noite, com uma programação rica em diversidade artística: peça de teatro, hip hop, capoeira, música e muito mais. Participaram da comemoração vários moradores, equipes de produção do museu e de vários projetos do CEASM.
Logo após a exposição, foi feita a sessão de contação de histórias, que relembrou os encontros feitos por moradores e professores para compartilhar novas descobertas através da leitura. Já o projeto Oficinas Culturais agitou o evento com a energia do seu novo grupo de hip hop. Para os interessados em artesanato e pintura, a oficina de estêncil, com recortes de máscaras produzidas pelo cenógrafo Marcelo Vieira, coloriu com imagens e textos tecidos de bolsas e camisetas. Também houve mostra de produtos artesanais do projeto Marias Maré.
A maratona cultural não parou por aí. Apresentaram a peça “O casamento na palafita” e o grupo Militantes em Cena trouxe a esquete “Puta que pariu, Brasil”, seguido de debate sobre a situação política do país. O grupo Capoeira Maré de Bambas fez a roda com os participantes e, depois, estudantes do Exame para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja Maré) apresentaram a pequena peça “Bumba Meu Boi”. A noite seguiu com a performance “Parte de Nós” feita pelo projeto Entre Lugares Maré. Antes do encerramento do evento, os participantes pintaram o retrato de Marielle Franco, moradora da comunidade e vereadora do Psol executada em março deste ano.
Uma das figuras importantes no processo artístico do museu, o cenógrafo Marcelo Pinto Vieira esteve presente e contou ao CIDADÃO a relação entre as atividades do Museu e a formação de novos artistas, artesãos e produtores de arte, frutos das muitas oficinas, cursos e eventos realizados pela instituição. “É difícil pontuar exatamente a quantidade de pessoas que foram beneficiadas com o aprendizado de nossos projetos, mas sabe-se que muitos estão espalhados produzindo, estudando, criando, seja aqui dentro da Maré ou em outros lugares. Seja com grafite, pintura ou artesanato”. Atuante desde o início do Museu, em 2006, ele ainda comentou o legado cultural que o espaço segue deixando para a favela. “O legado cultural é muito intenso, ultrapassa os limites da arte tradicional. Alguns aprendem vendo uma exposição, depois estão numas das oficinas, se inspiram, criam e se motivam para fazer uma especialização numa universidade, como uma graduação em museologia, arquivologia, cenografia ou simplesmente continuam colaborando em outros lugares o que aprenderam conosco. O fluxo de talentos sempre foi bem frequente. Eles chegam, conhecem o espaço e ganham o mundo com as experiências adquiridas aqui.”.
O museu foi pensado e criado de forma colaborativa, como as casas da favela. A Rede de Memória do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) se juntou ao Ministério da Cultura do Rio de Janeiro há 12 anos, e assim, inauguraram o primeiro museu social dentro de uma favela, o Museu da Maré. Espaço reservado para a preservação da história, memória e resistência das 16 comunidades que formam o Conjunto de Favelas da Maré, localizado na zona norte da cidade.
Marca registrada do Museu, a exposição permanente “Tempos da Maré” também foi resultado de um projeto colaborativo e interativo, como descreve Marcelo Vieira: “O projeto cenográfico do museu foi feito através de uma vivência do olhar do morador. Esta referência, aliada com os conhecimentos profissionais, como por exemplo o da minha formação de cenógrafo, resultou nesta exposição permanente. Fico feliz por ter feito parte do processo que resultou no barraco (um dos cenários da exposição permanente), isso para mim como profissional é gratificante. Afinal 12 anos é uma vida, muitas produções às vezes resultam em meses, no máximo um ou dois anos, daí você percebe a sua utilidade e reconhecimento que se mistura com a história, um legado, e isso é muito gratificante”.
Além de exposições, é possível encontrar a Biblioteca Elias José, que faz empréstimo de livros gratuitamente. Moradores e movimentos usam o espaço para aulas de dança, encontros de comunicação e demais eventos. O local também conta com o Arquivo Dona Orosina Vieira, mulher negra, considerada a primeira moradora da Maré, que construiu sua palafita no Morro do Timbau na década de 40. “O principal foco é contar a história dos moradores e de sua resistência para permanecer nessa região e construir aqui seu lugar de vida”, conta Claudia Rose, diretora do Museu, no documentário Museu da Maré: Memórias e (Re)Existências. Entre os documentos disponíveis em todo o Arquivo estão fotografias, publicações, fitas de vídeo e áudio, jornais e mapas. Eles podem ser consultados por moradores, professores, pesquisadores e alunos das escolas públicas, democratizando o acesso à história local e seus aspectos sociais, culturais e territoriais.
Mas o Museu da Maré não se limita à história da favela. Segundo Vieira, muitos outros temas já passaram em exposições, sem contar os inúmeros eventos ali sediados: “Já falamos sobre dinossauro, sobre o parágrafo zero que envolveu a questão da habitação, a arte contemporânea, através de algumas instalações. Representantes de outros países já estiveram aqui e a eles foi apresentada a importância do museu para o Brasil, incluindo o fato de ele ser pertencente a uma favela, identificando o território como patrimônio social”.
A mudança constante através de novas exposições e a ocupação do espaço através de ações culturais incentiva diariamente o consumo de cultura local, da troca, do aprendizado e de visitas de turistas, vindos de todos as partes do mundo. Há quatro anos, o espaço é reconhecido como atração turística do estado do Rio e a cada ano celebra uma conquista diferente em seu aniversário.
Visite o Museu da Maré na Avenida Guilherme Maxwell, 26 – Maré (na rua da passarela 7 da Avenida Brasil e em frente ao SESI).