Maré do Bem Viver faz apresentação e lançamento de cartilha sobre direitos

Geral, Saúde

Texto e fotos por Raysa Castro

No último dia 19/04 o projeto  “Maré do Bem Viver: direitos, cuidado e cidadania” do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), realizou a apresentação e entrega de sua cartilha de orientação de acesso a direitos.

Demandas urgentes da pandemia

Com os crescentes casos de Covid-19 no Brasil em 2020, as favelas do Rio de Janeiro tiveram que articular estratégias para amenizar os impactos do vírus e da negligência do Estado com os territórios pobres, pretos e favelados. Na Maré, contemplados pela Fiocruz, grupos como a Frente de Mobilização da Maré, em parceria com o CEASM, viabilizaram a entrega de cestas básicas e kit de higiene para grande parte das casas Mareenses.

Em 2021, após o encerramento das entregas de cestas básicas, o CEASM cria o projeto Maré do Bem Viver, contemplado pelo Plano Fiocruz de Enfrentamento à Covid-19. O projeto tinha como objetivo acolher as demandas para além da insegurança alimentar que a pandemia deixou, fazendo o acolhimento de cerca de 150 famílias da Maré, visando um suporte para apoio social e de saúde física e mental. Com a pandemia, a gente perdeu o fio da meada das coisas. Aquele ritmo de antes da pandemia, a gente ficou com aquela coisa sufocante, oprimida. O mundo inteiro ficou. E nós perdemos a rotina” relata Vera Lúcia, de 61 anos, uma das beneficiárias do projeto.

Mães acolhidas pelo projeto.

A equipe foi composta por profissionais da Psicologia, Serviço Social, agente territorial e nutricionista, que somaram para auxiliar o acesso aos direitos das famílias. O projeto teve suas atividades encerradas no final do mês de julho de 2022, mas continuou até o final do ano em processo de pesquisa e produção da cartilha.

O lançamento da cartilha

A atividade aconteceu no CEASM, onde a equipe do projeto apresentou alguns de seus resultados e contou com a presença de toda a equipe, da direção e colaboradores do CEASM, além das mulheres acolhidas pelo projeto e do coordenador executivo do plano Fiocruz, Richarlls Martins, que disse ter avaliado não apena o resultado final, mas todo o processo, desenvolvimento e a importância do projeto, e elogiou: “A nossa avaliação é que o projeto foi desenvolvido da melhor maneira possível”.

A cartilha foi pensada e elaborada pela equipe do MBV após a finalização de atendimento dos grupos terapêuticos, no intuito de orientar a população sobre os equipamentos governamentais disponíveis para o acolhimento dos mareenses. “A gente foi entendendo as dúvidas das pessoas e a partir dessas dúvidas foi selecionando [os assuntos]” conta Bruna Gabriela, coordenadora geral do projeto.

Na foto Bruna Gabriela (coordenadora geral do projeto), Richarlls Martins (coordenador executivo do plano Fiocruz) e Thayná Matos (psicóloga).

A publicação contém informações como os dias e horários de funcionamento de CRAS, documentações necessárias para atendimento, informações sobre pessoas aptas a receber auxílios de programas sociais, onde conseguir atendimentos psicológico ou nutricional próximo, indicação de áreas de lazer na Maré, locais de acesso a educação grátis (como o CPV-CEASM), etc. “Dobrou o número de páginas e quintuplicou o número de exemplares, era pra ser 2 mil e nós fizemos 10 mil. Isso em função da elasticidade do edital, da proposta colocada ali. Várias coisas entraram, as informações das associações de moradores por exemplo”, relata Luiz Antônio de Oliveira, diretor do CEASM.

São orientações detalhadas e atualizadas no intuito de, não somente informar oportunidades -muitas das vezes pouco divulgadas- mas também fazer com que as pessoas tenham ciência de seus direitos e possam ocupar e desfrutar dos espaços e equipamentos presentes, que, segundo a psicóloga Thayná Matos, muitos nem sequer sabem que existem. No projeto houve, ainda, encaminhamentos de beneficiários tanto para o CAPS, quanto para o CAPSI.

Cartilha de orientação de acesso a direitos.
Os grupos terapêuticos

A estratégia do projeto de atendimento terapêutico para as famílias se dava em rodas de conversa realizadas como grupos terapêuticos, havendo quatro grupos: um infantil, um de adolescentes, um de jovens e um de mulheres. Os atendidos faziam parte das 150 famílias acolhidas, onde cada um enfrentava suas lutas. Alguns que perderam entes queridos na pandemia, ou perderam seus empregos, tiveram suas dificuldades atenuadas, e o objetivo era criar um espaço seguro e acolhedor. Para isso, a equipe teve que primeiro ganhar a confiança das famílias, já que em alguns grupos existiam pessoas da mesma família e/ou conhecidas, que sentiam-se envergonhadas ou receosas de expressarem suas questões, indicando medo de que acabasse repercutindo dentro das comunidades: “Eu achei sim que no primeiro, segundo dia, que nossos assuntos iam rolar dentro da comunidade. Mas na verdade todo mundo conseguiu desabafar, falar do que estava guardado”, relata Patrícia. E no que levantava receio nas beneficiárias, Patrícia continua sua fala reforçando que o espaço de conversa foi responsável por unir dores e objetivos, dando a oportunidade de uma elaboração compartilhada, ao mesmo tempo em que se acabava com a ideia humana de estar completamente sozinho: “Eu achava que era o fim do poço, que só eu estava passando por aquilo, só eu estava sentindo aquilo, só eu tinha perdido. Mas não, tem pessoas com histórico como o meu que estavam superando, e superaram. E eu falei: a gente consegue. E conseguimos”.

Momento de apresentação dos resultados.

No momento final do evento, houve conversas sobre como renovar os grupos terapêuticos ou criar novas iniciativas de saúde mental para a população mareense, uma vez que todas as beneficiárias presentes expressaram a falta que sentem do acolhimento.

O projeto, por ora, encerra seu ciclo e deixa para a população a cartilha de orientação disponível de forma gratuita na secretaria do CEASM ou de forma online, através do site ceasm.org.br.

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