
Biquíni de fita faz sucesso na laje mareense
Por Carolina Vaz
Foto de capa: Raysa Castro
37 graus, 38, 39, 40… está complicado este calor! Mas o que para muitos é desconfortável, para outros é ocasião de trabalho e oportunidade para se sentir mais bonita. Se tem uma atividade que depende do sol, é o bronzeamento por biquíni de fita, feito necessariamente no ambiente aberto. Praia, quintal, varanda e – muito comum nas favelas – a laje. Muita gente só conheceu a técnica há cerca de sete anos, com o clipe de Vai Malandra, da cantora Anitta. Hoje, a prática se expandiu. Moradoras já conseguem abrir seus negócios em suas lajes com o biquíni de fita, mas é preciso treinamento e uso dos produtos e técnicas certas.
Segundo Bruna Rodrigues, de 37 anos, moradora do Parque União e dona da empresa Bruna Bronze, existem alguns motivos para as mulheres fazerem o bronzeamento pela fita, e um deles é a exatidão da marca que fica. O biquíni de pano muda sua posição no corpo quando a mulher se movimenta, enquanto o de fita gruda na pele, deixando uma marquinha “impecável”. Na sua laje, as mulheres antes têm o corpo preparado com uma mistura de produtos elaborada pela própria Bruna, chamados de ativadores. Com eles, mais o “biquíni” montado com fita própria para isso e a exposição direta ao sol, a marquinha aparece mais cedo do que aconteceria naturalmente. “Com o biquíni de pano, a cliente fica três, quatro horas no sol e não consegue pegar uma marquinha, mas com o biquíni de fita, em média são 40 minutos para pegar uma marquinha legal”, ela comenta.

Uma das clientes que já aderiu há três anos à marquinha feita na laje é a Drielle Estevam, promotora de vendas de 35 anos. Antes ela tinha curiosidade, mas era resistente a “se expor” na laje, por vergonha do seu corpo. Porém, bastou ir a primeira vez para se identificar com a prática. Ela conta também que a marquinha que ela exibe vira um mostruário do trabalho da Bruna Bronze: “Eu acho que fica bonito, é uma coisa que faz bem para mim, para a autoestima. (…) As pessoas sempre comentam! Porque eu sou muito branca, a marca aparece bastante”. Ela renova a marquinha cada duas semanas ou um mês e mantém os cuidados com a pele, usando protetor solar e hidratante.

“Aqui nós não temos padrão, a nossa única missão é realmente devolver a autoestima pra essas mulheres que às vezes levantam, se olham no espelho e estão preocupadas com peso, estão destruídas de relacionamentos… o bronzeamento consegue resgatar aquela mulher que estava caída, consegue devolver a autoestima e a cliente passa a vir pra cá já sem vergonha nenhuma”. – Bruna Rodrigues, da Bruna Bronze
Como funciona
Há oito anos a Bruna faz o bronzeamento por fita na laje de casa, e nesse tempo ela aprendeu modos de realizar o trabalho sem prejudicar a saúde das clientes. Um dos pontos de destaque é o horário: a laje abre 7h30 e as clientes podem entrar até, no máximo, meio-dia, pois à tarde o índice Ultra Violeta (UV) fica muito alto e pode danificar a pele. Além disso, o tempo de exposição é diferente de acordo com a cor da pessoa. Para a pele branca são 30 minutos de frente e 30 de costas. Pele morena, 1h de frente e 1h de costas. E pele negra, 1h30min de frente e 1h30min de costas. Quanto mais escura a pele, mais tempo leva para fazer o contraste entre a parte coberta pela fita e o restante do corpo. Os horários de início e de mudar a posição são anotados e supervisionados pelas funcionárias.

Ao longo da sessão as clientes bebem água, suco de beterraba feito no espaço e sacolé, além de poderem se molhar para refrescar. Para manter a marquinha, a Bruna recomenda que a cliente faça a primeira sessão, aguarde 7 dias e faça a segunda, e após mais 7 dias a terceira. Depois, o recomendado é esperar no mínimo 15 dias para voltar. Cada sessão custa de 60 a 70 reais. A equipe também faz a recomendação de cuidados após a exposição ao sol: não tomar banho de água morna, não esfoliar o corpo nas próximas 48 horas e usar protetor solar. Para não estragar o formato da marquinha, elas também recomendam não se expor ao sol de biquíni, mas como ir à praia é o que muitas clientes desejam, a empresa também faz o serviço de montar o biquíni no espaço e a mulher sair com ele no corpo.

A história da Bruna Bronze
Bruna Rodrigues já teve diversas profissões, mas sempre gostou muito do sol. Em 2018, teve a oportunidade de fazer um curso de bronzeamento e foi se aperfeiçoando, tanto no biquíni de fita na laje, quanto no uso de máquina para bronzeamento artificial. Ela começou montando o biquíni em manequins até chegar no formato considerado perfeito, e o atendimento ao público já se iniciou quando ela tinha só uma cadeira de praia. Era na cozinha dela que as clientes esperavam a vez de montar o biquíni, e a montagem era feita na sala. Hoje ela já tem espaços próprios para essas etapas e ainda expandiu o negócio: além da laje, ela tem dois espaços na comunidade com máquina de bronzeamento e conta com sete funcionárias em todo o negócio. Elas fazem um treinamento de um mês com a Bruna e depois podem atuar sem tanta supervisão.

Com 18 mil seguidores no Instagram a laje dela faz sucesso, e até a vizinhança já está acostumada: quando chega uma mulher buscando o número 8 na rua Maurício de Nassau no P.U., quem mora por ali logo avisa que a entrada é pelo portão cinza. São de 30 a 40 mulheres por dia que buscam o serviço, por isso a Bruna já pensa em expandir para uma laje maior. Ela também já teve o trabalho reconhecido na Fita de Ouro, competição nacional que escolhe os melhores profissionais de bronzeamento do país.
Embora o bronzeamento seja um sucesso em todo o país, o biquíni de fita na laje encontrou um lugar de destaque entre as mulheres das favelas. É uma possibilidade de negócio utilizando a própria laje, para as empreendedoras, e para as clientes um método rápido e acessível para atingir a “marquinha perfeita” e renovar a autoestima.