Dia de Conscientização do Autismo é celebrado com ato na escola EDI Kelita

Educação, Geral, Notícias, Saúde

Por Carolina Vaz

Foto de capa: Ana Cristina da Silva

No dia 02 de abril, celebra-se o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, e um grande evento foi realizado no Espaço de Desenvolvimento Infantil Profª Kelita Faria de Paula, no Morro do Timbau. A escola convidou todos os responsáveis a participarem, promovendo uma grande interação entre crianças e adultos no pátio da escola, incluindo também a equipe de outro EDI próximo, o EDI Profª Solange Conceição Tricarico. A Clínica da Família Augusto Boal também se fez presente, levando fantoches para falar com as crianças sobre escovação bucal, além de kits de escovação e demais itens de saúde preventiva para distribuição.

Equipe da CF Augusto Boal levou fantoches para ensinar às crianças sobre escovação. Foto: Ana Cristina da Silva.
Promover o respeito e a inclusão

O evento teve como objetivo mostrar aos responsáveis e toda a comunidade presente a convivência positiva que as crianças têm independente de suas diferenças, e a importância do respeito para que nenhuma criança cresça reproduzindo preconceito e todas se sintam igualmente importantes. A diretora Rosângela Alves fez a abertura das falas, destacando que tem crescido o número de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas escolas e já não é aceitável que haja um olhar atravessado para essas crianças, é preciso ter a colaboração de todos para que a escola seja um ambiente acolhedor. Ela também deu ênfase ao papel da escola, como principal espaço de socialização da criança, em estar aberta aos pais: “Precisamos nos preparar hoje para acolher não só essas crianças, mas também suas famílias, muitas vezes cansadas e sofridas, por noites mal dormidas, por incompreensões e olhares discriminados”.

A diretora Rosângela Alves abriu o espaço de falas do ato. Foto: Ana Cristina da Silva.

“Precisamos criar ambientes acolhedores, onde todos se sintam respeitados e amados independentemente de suas diferenças. Que essas famílias se sintam bem vindas e valorizadas”

Rosângela Alves, diretora do EDI Kelita

A professora Raquel Salles, também da equipe do EDI Kelita, deu seu testemunho sobre as lições que a equipe vem aprendendo com os alunos com TEA, ainda na primeira infância: “O autismo está nos ensinando a grandiosidade das pequenas vitórias. Que é possível dizer te amo sem usar só uma palavra. Que o amor nos torna fortes o suficiente para lutarmos todos os dias. Eles estão nos ensinando também a ter paciência , a ter sabedoria em meio a uma crise e às vezes até uma birra mesmo. (…) Eles podem mais do que nós imaginamos. E através das suas múltiplas inteligências aprendemos com eles formas distintas de ver o mundo e assim ressignificarmos a nossa prática docente”.

Evento reuniu equipe dos EDIs, pais, mães, avós e as crianças do espaço. Foto: Ana Cristina da Silva.

Representantes de espaços de gestão da educação municipal também se fizeram presentes, como Fátima Barros, coordenadora da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE). Segundo ela, na CRE existe um setor apenas para viabilizar a entrada de novos profissionais nas escolas, como os agentes de educação especial, mas embora todas as escolas sejam igualmente inclusivas, há uma dificuldade em receber novos agentes na Maré e em outras favelas. Segundo ela, por causa da imagem que se passa lá fora: “As pessoas, às vezes, até querem vir, mas têm medo da imagem que é publicizada da Maré, que não é a realidade. Essa é a maior dificuldade”. Ela também fez sua fala no evento, parabenizando a escola pela atitude e reforçando a necessidade de haver parceria entre pais e escola.

Da esquerda para a direita: Joseli Dantas e Bruna Serpa, do IHA, a coordenadora da 4ª CRE Fátima Barros, a diretora Rosângela Alves e Rosana Oliveira, da 4ª CRE. Foto: arquivo pessoal Rosângela Alves.

O centro de referência em educação inclusiva Instituto Helena Antipoff (IHA) também se fez presente através da diretora Bruna Serpa e da assistente Joseli da Silva Dantas. O Instituto promove formações, propõe políticas públicas e dá assistência a toda a rede municipal de ensino, tanto nas unidades para crianças quanto para jovens e adultos. Segundo Bruna, o Transtorno de Espectro Autista é o transtorno que mais se manifesta em toda a rede, e é fundamental que haja a inclusão desde o berçário, como acontece no EDI Kelita. “A gente mostra que não há diferença entre os alunos, todos são iguais no processo educativo, e quem menos exclui nessa vida são as crianças. As crianças nos ensinam a incluir todos os dias, independentemente de qualquer situação”, afirmou. Joseli Dantas, em entrevista, reforçou que o respeito deve promover a inclusão de todos, com um olhar de equidade, respeitando as necessidades de cada um. A ideia, no trabalho do IHA, é trabalhar as potencialidades de cada aluno e não suas dificuldades.

Educadores dos EDI Kelita e Solange uniram seus cartazes para levar mensagens de respeito. Foto: Ana Cristina da Silva.
O TEA no dia a dia

Uma das crianças que corriam pelo pátio na manhã da última terça-feira, aproveitando os pula-pulas, pipoca, picolé e as “tias” dos fantoches, era o Arthur, de 4 anos, que tem TEA. Ele estava com a mãe Larissa de Sousa e a avó Jaciara de Sousa, moradoras da Maré. Segundo a avó, o EDI Kelita mantém a família informada sobre o Arthur: “Eles sempre falam, eles mandam o relatório, a gente assina o relatório. Ele tem seletividade alimentar, sai mais cedo… isso tudo eles ajudam bastante”. Apesar de o Arthur não se comunicar muito verbalmente, no final de semana ele pede “escolinha”, o que demonstra que ele gosta de ir e sente falta. Os obstáculos que a família enfrenta, na verdade, são para conseguir os atendimentos aos quais o Arthur tem direito mas a unidade de saúde nunca consegue: fonoaudióloga, psicóloga, terapeuta ocupacional e outras.

Jaciara de Sousa e Arthur curtiram o evento juntos. Foto: Ana Cristina da Silva.

O evento também contou com o depoimento de uma mãe que vive essa realidade: Cristiane Chaves, moradora da Baixa do Sapateiro e mãe do João, de 7 anos, ex-aluno do EDI Kelita. Ele estudou ali até 2022, depois teve que ir para uma escola municipal, onde não foi tão acolhido, o que frustrou Cristiane. Ela deixou uma mensagem a todos os responsáveis presentes, para que reconheçam que mulheres consideradas “guerreiras” ou “heroínas” muitas vezes são mães sobrecarregadas, e que só precisam de um acolhimento ou de serem procuradas para conversar de outros assuntos que não sejam só a criança ou a deficiência. “Nós precisamos de força, de coragem para falar mesmo o que a gente quer, e de um tanto de ousadia para conquistar o básico para nossas crianças”, afirmou. Apesar de o João já não frequentar o EDI, para Cristiane ali eles formaram uma família, e é onde ela recebe acolhimento sempre que precisa.

Rosângela Alves e Cristiane Chaves. Foto: Ana Cristina da Silva.

O evento foi finalizado com um ato, dentro do próprio pátio da escola, com muitas faixas e cartazes coloridos levando mensagens sobre inclusão e respeito.

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