Maré vive quatro dias de operações policiais

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Os mareenses começaram a semana, na última segunda-feira (09), ao som de helicópteros e dividindo as ruas da favela com centenas de policiais. Era o início da “Operação Maré”, uma série de operações já previstas desde o final de setembro na qual o governo estadual acredita que entrando nas favelas será possível desmantelar o crime organizado do Rio de Janeiro. Outras favelas como Vila Cruzeiro e Cidade de Deus também foram alvos de operação, mas não por três dias seguidos.

O que se anunciava para essa intervenção, por parte do governo do estado e do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), era que seria uma operação “inteligente”, com o uso de câmeras, em modelo inovador e com o menor número de vítimas possível. Além de não se ter cumprido com a proposta – nem todos os policiais tinham câmeras nas fardas – os resultados foram os de sempre: 5 unidades de saúde fechadas, assim como pelo menos 40 escolas, atingindo mais de 20 mil alunos. Isso se deu por pelo menos 10 horas por dia, de segunda-feira (09) a quarta-feira (11), com mais algumas horas de operação na manhã da sexta-feira (13). Um bairro inteiro que se viu refém da “política de segurança pública” do estado e ninguém sabia quando poderia sair de casa, sequer se seria possível comemorar o Dia das Crianças na quinta-feira (12).

Imagem: Intercept/Reprodução.

Apesar de se ter anunciado que os policiais usariam câmeras nas fardas, que essa seria uma ação “inteligente” e tecnológica, o que evitaria o uso da violência, esta ainda esteve presente. O que se viveu foi uma série de abusos, com intimidação de moradores, entrada nas casas com chave mestra ameaçando famílias e revirando objetos, arrombamento de carros, espancamento no meio da rua. Houve ainda dano à infraestrutura local, pois um dos veículos da polícia rompeu um encanamento na rua Darci Vargas, no Parque União, e causou o alagamento da rua. Um vídeo que circula nas redes mostra uma pilha de uniforme abandonado e queimado na rua, que tinha munição nos bolsos e essas dispararam atingindo imóveis ao redor.

Imagem: Intercept/Reprodução.

Na última segunda-feira eu estava saindo da casa de uma amiga para ir pra casa e me ajeitar para ir à faculdade, peguei um moto táxi para chegar mais rápido e quando desci a passarela fomos parados ali mesmo. Pediram pra que a gente descesse da moto, e depois de olhar a pochete do mototáxi o policial pediu que eu abrisse minhas bolsas e começou a fazer uma série de perguntas de onde estava vindo, para onde ia, se eu era da favela, se gostava de usar drogas ou “fumar uma verdinha”. perguntou até se eu tinha algo ali comigo.

Moradora.

Uma operação realmente inteligente, guiada por investigações, não teria necessidade de interrogar moradores na rua.

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Não é possível saber, por enquanto, se nos próximos dias mais operações ocorrerão, mas é fato que as forças policiais do Rio de Janeiro ganharão um novo contingente de homens, pois o Ministério da Justiça e Segurança Pública confirmou o envio de 150 agentes da Força Nacional para atuarem nas rodovias, sob coordenação da Polícia Rodoviária Federal. Dentro do ministério, debate-se uma proposta com diretrizes como: utilização de câmeras corporais pelos agentes; atendimento médico e socorro a feridos; garantia das atividades das escolas; e prévio aviso sobre a entrada nas comunidades. Com uma conversa entre Ministério Público Federal e secretário-executivo Ricardo Cappelli, marcada para a próxima terça-feira (17) novas regras podem ser impostas, uma vez que mesmo antes de começarem as operações o MPF havia questionado os possíveis efeitos violentos da intervenção.

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