Inclusão e dignidade, o impacto da arquitetura e urbanismo nas favelas

Notícias, Obras públicas

Texto: Arquitetos da Favela

Ocorreu na Cidade Maravilhosa o 1º Fórum de Habitação Digna nas Favelas e Comunidades do Rio de Janeiro, pensado por Luis Fernando Pereira, cria do Morro da Providência, Arquiteto e Urbanista e também fundador do Coletivo Arquitetos da Favela. O Fórum foi realizado em 08 de julho no Morro da Providência, a primeira favela do Brasil.

Leila Marques, conselheira do CAU-RJ, Mica Arquitetura, advogada Ana Rangel e o fundador do coletivo Luis Fernando dialogam sobre caminhos para proporcionar moradia digna. Foto: Arquitetos da Favela.

O debate realizado pelo Coletivo contou com a presença e apoio da MICA Arquitetura, idealizadora do Café com Mica. Moradores locais estiveram presentes e atentos ao debate, lideranças articulavam sobre as futuras atuações, Arquitetos e Urbanistas empolgados com as propostas, dentre elas a proposta do Arquiteto e Urbanista Luis Fernando: o “CAU-FAVELA”.

Pedro Rafael e Victor Motta, presidente e vice-presidente, representantes da ACRJ (Associação Comercial do Rio de Janeiro), prestigiaram o evento e em discurso breve elogiaram a iniciativa do coletivo e se colocaram à disposição para futuras articulações. Foto: Arquitetos da Favela.

O encontro abordou assuntos técnicos sobre habitação, qualidade de vida, saneamento, saúde, também o papel do Arquiteto e Urbanista e de outros profissionais ao atuar nas favelas e comunidades. No debate houve discussões importantes acerca do papel social dos profissionais de Arquitetura e como podem agir nos territórios de favela de forma efetiva, respeitosa, sendo acessíveis para a população.

Com isso em mente, o Coletivo Arquitetos da Favela expôs sua vontade de dignificação de moradias e de promover a transformação na vida dos moradores desses territórios, criando uma interlocução com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do estado do Rio de Janeiro (CAU/RJ). O Conselho, além de dispor de todo o conhecimento técnico, possui abertura para um diálogo direto com o Estado. Dessa conversa surge o “CAU FAVELA”, pensado e idealizado por Luís Fernando Pereira, como uma proposta de criar dentro do Conselho um grupo de atuação em prol de moradia digna em favela.

Foto: Arquitetos da Favela.

A história do Coletivo Arquitetos da Favela aborda a importância do Arquiteto e urbanista explicitando esse poder transformador da arquitetura, nasce a partir da visão de quem vive o cotidiano de uma favela e percebe toda a potência do território. Com uma memória local, sempre com muitas histórias de vida, entendendo e sentido “na pele” todos os percalços existentes, advindos da falta de um olhar atento e cuidadoso por parte do Poder público em geral e a falta de inclusão e dignidade.

Tendo por base esses percalços e toda uma potência ali estabelecida, não há outro caminho a ser tomado que não a discussão acerca do habitar nas favelas. Essa habitação deve ir muito além de um teto sobre a cabeça. A habitação deve ser digna em todas as dimensões: social, material, técnica, poética e subjetiva do ser humano.

O Coletivo Arquitetos da Favela

O Coletivo Arquitetos da Favela nasce de uma vivência de um favelado, agora também arquiteto e urbanista, que habita a primeira favela do Brasil, o Morro da Providência, com a colaboração de amigos arquitetos que têm como premissa promover habitação digna para todos, e levar saúde, bem-estar, qualidade de vida, dentre outros elementos capazes de transformar um teto em lar. Atuamos através do projeto participativo, onde todos os habitantes envolvidos no território são ouvidos. Entendemos que na promoção de habitação digna não devemos excluir, e sim acolher e escutar. Projeto é processo, processo é participação e ela ocorre através de mão de obra voluntária, doações de materiais, e trocas de experiências.

Grupo conversou sobre as problemáticas das moradias em favelas e começou a traçar soluções. Foto: Arquitetos da Favela.

Uma habitação de qualidade se constrói com memória, histórias, múltiplos saberes, funcionalidade, criatividade, entendimento dos materiais e o seu contexto, sendo esses os objetivos do Coletivo. Nas ações desenvolvidas, os moradores da comunidade são parte atuante do processo, como a mão de obra intelectual e física, favorecendo a movimentação da economia local, a capacitação profissional dos que atuam, buscando assim um sistema econômico e social autossustentável dentro da comunidade. E para além disso, o Coletivo ouve os moradores, leva para a favela o debate da arquitetura e os inclui na busca de soluções para os problemas. Atuando na percepção e vivenciando o território junto de quem habita o espaço, os habitantes da favela são a verdadeira potência do território!

Muito se fala sobre a precarização do território favelizado, entretanto se faz necessário debruçar-se sobre ele e efetuar um recorte específico para compreender que há dois polos nestas localidades. Dados da pesquisa do DataFavela em 2023, divulgados na Expo Favela, nos apontam que o território favelizado a nível nacional movimentou 200 bilhões de reais. as favelas tem seu lado de precariedade mas também é potência. “Sempre falam de nossos espaços como local de gente carente, e eu conheço gente potente”, disse Celso Athayde no evento.

Atuando sem fins lucrativos, através de doações, tendo em vista apenas a melhoria das condições de vida dos que mais precisam, o Coletivo busca com intervenções pontuais modificar a vida das pessoas, levando dignidade, saúde, bem-estar e afeto através dos espaços.

CAU FAVELA

Movimento idealizado pelo morador da primeira favela do Brasil, Luis Fernando, agora Arquiteto e Urbanista, lançado no dia do fórum que tem como principal objetivo articular a inclusão com as comunidades do Rio de Janeiro. O conselho estará integrado com a associação de moradores das comunidades e o poder público e irá possuir corpo técnico formado por arquitetos, engenheiros, técnicos em edificações, dentre outros profissionais, que serão preferencialmente profissionais que habitam no território. Estarão atuando todos juntos na promoção de habitação digna. Essa base fará com que os profissionais levem apoio técnico para sua favela, fazendo com que todas as favelas sejam assistidas pelo programa.

Foto: Arquitetos da Favela.

O Conselho de lideranças das favelas registradas surge para incentivar líderes natos que não estão vinculados às associações de moradores, mas desenvolvem ações sociais. Eles terão todo o apoio do CAU, inclusive no que cerne a qualidade de urbanista social, para que o mesmo seja registrado junto ao conselho. O CAU-FAVELA visa além das articulações com o território, a integração com associação, lideranças e poder público na construção de projetos e fiscalização.

Um grupo que lute por melhores condições de habitação e moradia digna. Foto: Arquitetos da Favela.

ATHIS x Arquitetos da Favela

Diferente do que muitos pensam, há uma grande diferença entre ATHIS (Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social), e atuação do Coletivo Arquitetos da Favela. O Arquitetos da Favela é uma iniciativa privada e voluntária que visa a democratização da arquitetura nos territórios de favela, onde os profissionais que constituem o Coletivo colocam em prática seus conhecimentos técnicos adquiridos. Assim, proporcionando intervenções de melhoria em habitações precárias dentro do território, de forma com que os moradores participem ativamente das decisões de projeto e suas necessidades sejam atendidas. Já a ATHIS é uma política pública que visa garantir o direito à moradia digna para pessoas em vulnerabilidade social e econômica.

Saiba mais sobre o coletivo Arquitetos da Favela e conheça algumas de suas ações já executadas aqui. É possível acompanhar pelo Instagram @arquitetosdafavela e fazer contato pelo e-mail [email protected].

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