CEASM celebra 26 anos com Seminário Científico e Sarau

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Por Carolina Vaz

Foto de capa: Raysa Castro

O Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) completou, no último dia 15 de agosto, seus 26 anos de existência, e para comemorar realizou um seminário científico, mostrando a produção acadêmica de membros dos seus projetos, e um sarau temático dos 26 anos. Ambos os eventos foram organizados em coletivo pelos projetos da instituição, promovendo a integração e diálogo entre seus membros de modo a levar à população mareense uma amostra do trabalho construindo em mais de duas décadas, além de comemorar com festa aberta, como é tradição.

A Maré como bairro e os recursos do Museu

O Seminário Científico “CEASM construindo conhecimento” foi realizado no Museu da Maré, em 15 de agosto, e teve seis pesquisadoras e pesquisadores divididos em duas mesas de debate. Na primeira mesa, o foco foi a construção de memória coletiva sobre a Maré, a preservação de arquivos físicos dessa memória e a educação museal. Começou com a apresentação de Cláudia Rose, coordenadora do Museu da Maré, trazendo sua dissertação de mestrado “Maré, a invenção de um bairro”, que gira em torno do decreto que tornou a Maré um bairro em 1994. Ela falou sobre a motivação da pesquisa, as entrevistas realizadas com moradores e a contribuição dos projetos do CEASM em criar uma ideia de unidade das 16 favelas, tomadas em conjunto como bairro, o que segundo ela não foi suficiente para que os moradores aderissem ao termo. A pesquisa, apresentada como dissertação para conclusão de mestrado em Bens Culturais e Projetos Sociais da FGV, levantou novos debates no público do seminário.

Cláudia Rose apresentou dissertação de mestrado sobre o bairro Maré. Foto: Raysa Castro.

Logo após, pesquisas mais focadas no trabalho do Museu foram apresentadas, a começar pela tese de doutorado de Adrielly Ribas, “Prática, fundamentos e conceitos da educação museal: um estudo sobre as práticas educativas nos museus da República, da Maré e do Amanhã”. A pesquisa realizada no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) utiliza a Política Nacional de Educação Museal (PNEM), lançada em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), para analisar as práticas de educação nos três museus, inclusive avaliando as ações online da época de quarentena imposta pela pandemia. Por fim, houve a apresentação da pesquisa em curso “Arquivos Comunitários e acesso aos acervos: O Arquivo Dona Orosina Vieira do Museu da Maré”, de Thamires Ribeiro, conservadora-restauradora do Museu. Apesar de ter seu foco no Arquivo Dona Orosina Vieira (ADOV), ela parte das primeiras ações de registro da memória do bairro, ainda na TV Maré nos anos 80, passando para as ações da Rede Memória do CEASM em seus primeiros anos de vida, ADOV, Casa de Cultura e Museu da Maré. Atuando no ADOV já há alguns anos, Thamires vem trabalhando, para a conclusão de sua pesquisa, a possibilidade de criação de um guia de acervos para tornar mais fácil a utilização do Arquivo pelo público em geral. A pesquisa de Thamires é realizada na pós-graduação em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Thamires Ribeiro e Adrielly Ribas apresentaram pesquisas sobre recursos do Museu. Foto: Raysa Castro.

As três apresentações, mediadas pela coordenadora do jornal O Cidadão Carolina Vaz e ouvidas por um público composto majoritariamente de estudantes do Pré-vestibular CPV-CEASM e membros das equipes do CEASM, levantaram perguntas e comentários sobre o conhecimento dos mareenses de todos os projetos e materiais expostos por Thamires e Adrielly, além de debates sobre os fatores que ainda hoje são facilitadores ou obstáculos para a identidade de bairro Maré.

Identidades coletivas em pauta

Identidade foi, também, o primeiro tema da segunda mesa, com a apresentação de Luiz Lourenço de sua pesquisa em curso “Maré: tecendo identidades através do território”. O “cria” do CEASM e educador do Preparatório partiu da caracterização de alguns movimentos, tais como anticolonialismo, pós-colonialismo e descolonialismo, para analisar mais a fundo as identidades mobilizadas dentro dos projetos do CEASM. Com uma pesquisa-ação baseada em entrevistas, ele identificou diferenças e semelhanças entre os projetos, e indicou ações para o fortalecimento de uma identidade unificada da instituição. Sua pesquisa é realizada no mestrado em Ordenamento Territorial pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFF.

Público acompanhou as apresentações e fez comentários. Foto: Raysa Castro.

Logo após, outro “cria” apresentou uma pesquisa sobre história das favelas. Mestrando no Programa de Pós-graduação em História Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o educador do CPV Aristênio Gomes deu mais detalhes de sua pesquisa “Parque União, uma construção coletiva: a luta dos moradores por permanência na década de 1960”. No trabalho, ele retorna ao surgimento da favela, mais conhecida como P.U., investigando as estratégias para que as moradias fossem semelhantes ao padrão urbanístico da cidade, de modo a evitar remoções.

Da esquerda para a direita: Luiz Lourenço, Mirian Fonseca, Aristênio Gomes e Emmanuelle Torres. Foto: Raysa Castro.

A segunda mesa do seminário foi mediada pela coordenadora do CPV Emmanuelle Torres, e teve como última apresentação uma pesquisa da área de Psicologia: “Juventudes, favela e o discurso da falta: considerações acerca de igrejas neopentecostais e a produção de subjetividade”, trabalho de conclusão de curso de Mirian Fonseca, psicóloga no projeto Preparatório. Bacharel em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela parte da experiência de atuação com estudantes de 9º ano do projeto, anteriormente quando era bolsista de um projeto de extensão, para analisar o quanto o discurso de que “falta” muita coisa na favela (políticas públicas) se reflete em posicionamentos dos adolescentes ligados às igrejas neopentecostais. O assunto colocou em debate no evento a religiosidade dos educandos dos projetos, e como lidar com ela respeitando cada indivíduo e o coletivo ao mesmo tempo.

Sarau de aniversário reúne grande público

Concomitante ao seminário, os projetos do CEASM organizavam também uma grande festa de aniversário: um Sarau, marcado para o sábado, 19 de agosto. A arrumação no Timbau começou cedo, ainda no início da tarde com a parte da decoração e preparação das comidas e espaço adequado para as bebidas, assim como a confecção das fichas para venda. Do início da festa até o final, membros de todos os projetos participaram do revezamento da cantina, tornando possível para cada um colaborar e também aproveitar o aniversário.

Evento foi apresentado por Matheus Frazão, Carina Ricardo e Jefferson Melo. Foto: Ana Cristina da Silva.
O copo comemorativo de 26 anos era vendido em combo com as bebidas. Foto: Ana Cristina da Silva.

Realizado mensalmente pelo CPV, o sarau sempre reúne diferentes apresentações artísticas, e desta vez contou com o DJ Mike Master Beatz animando o público sempre entre uma apresentação e outra. O forró do trio Rasdot, composto por Marcelo Aragão, Isa Matos e Igor Barboi, formou casais para dançar o xote, e foi seguido pelo grupo de capoeira Maré de Bambas, que pratica no Museu da Maré. O jogo de capoeira e a roda de samba foram as principais modalidades da apresentação.

Trio Rasdot garantiu o xote dos casais. Foto: Ana Cristina da Silva.
Maré de Bambas marcou presença com a capoeira. Foto: Ana Cristina da Silva.

O público do Sarau foi formado por adolescentes, jovens e adultos em grande parte frequentadores dos projetos do CEASM, além do público cativo do Sarau do CPV que já conhece a festa. Eles circulavam entre os andares, visitando ainda a exposição de pinturas e outras obras da artista visual mareense Fabíola Martins. Uma das última apresentações, muito aclamada pelo público foi Lua e Killbill: As Lendas do Voguing do Complexo da Maré, apresentação de vogue estrelada por Kilbill e Lua Brainer. Ao final da apresentação, Lua ainda expressou a gratidão pelo CEASM, responsável por parte de sua formação como artista. A cantora Canario Negro também se apresentou com duas canções autorais, antes de abrir para o set do DJ Mike que durou até o fim do evento.

DJ Mike tocou ritmos como rap e hip-hop ao longo da festa. Foto: Ana Cristina da Silva.
Lua Brainer apresentou vogue junto com Killbill. Foto: Raysa Castro.

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