Moradora cria vakinha online para conseguir comprar casa acessível

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Antônia Maria é cadeirante e desde os seus 7 anos vive em uma casa no segundo andar onde o único acesso é através de uma escada íngreme

Texto por Ana Cristina da Silva

Fotos por José Bismarck

Tendo crescido verticalmente, o Conjunto de Favelas da Maré é composto por casas de vários andares, onde muitas das vezes contam com pequenos e estreitos cômodos. Para muitas pessoas isso não chega a ser um grande problema, mas para moradores como Antônia Maria Souza, do Parque Rubens Vaz, este tipo de estrutura toma algo de muito valor: sua liberdade. Afinal, a mareense faz uso da cadeira de rodas e o único acesso para a sua casa é através de uma escada, fazendo com que ela dependa do irmão ou de qualquer outra pessoa para o simples ato de entrar ou sair do local. Em busca de qualidade de vida, hoje ela segue com uma campanha de arrecadação para conseguir comprar uma casa ou kitnet que seja no primeiro andar.

Sua história

Nascida na Paraíba, a mareense perdeu o movimento das pernas graças a um erro médico durante o seu parto. Posicionada de forma inadequada na barriga de sua mãe, Antônia chegou a colocar o pé direito para fora, mas os médicos, que se recusaram a fazer uma cesária alegando risco de vida, demoraram muito para aparecer na sala. Três dias após o seu nascimento, sua mãe percebeu que suas pernas não se moviam. “Depois de um tempo minha mãe ficou sabendo que o médico que fez o meu parto estava um pouco embriagado. A equipe deixou e foi o que ocasionou tudo”, conta Antônia.

Sem acessibilidade, Antônia Maria vive no mesmo local desde os 7 anos de idade. Foto: José Bismarck.

Antônia veio para a Maré com seus 7 anos e nunca mais saiu. Deixou a Paraíba ao lado da mãe, dos dois irmãos mais novos e de uma tia. Sem lugar para ficar, moraram de favor por um mês na casa de uma conhecida, até que seu pai os encontrou após comprar uma kitnet. Localizada na rua Massaranduba, a kitnet era composta por apenas um cômodo. “Nesse cômodo eu morei a minha vida toda com os meus pais e meus 2 irmãos”, lembra a mareense. Mesmo com o falecimento de seu irmão Carlos e de seus pais, Antônia continuou morando no mesmo lugar: uma vila de kitnets no Parque Rubens Vaz.

O intuito da minha mãe vir para o Rio era conseguir tratamento, reabilitação para mim e para meu irmão Carlos, que tinha paralisia cerebral. Porém, com o decorrer dos dias após chegarmos no Rio nada disso aconteceu. A vida foi acontecendo, os meses foram passando e as dificuldades foram atropelando as nossas vidas. Foram atropelando os sonhos da minha mãe, os desejos que ela tinha para os dois filhos com deficiência e para a própria vida dela”.

A falta de acessibilidade

Hoje, com mais de 30 anos, Antônia mora na mesma vila. Porém, sem muitos parentes por perto, conta com a ajuda de seu irmão José Jardiel para quase tudo, desde entrar ou sair de casa ou até mesmo ir ao mercado e resolver qualquer assunto na rua. José trabalha, é casado e tem uma filha de 7 anos, por conta disso não é sempre que está por perto para ajudar a irmã. Porém, quando está por lá, é ele que abre a porta para a visita e é ele que pega Antônia no colo para ir ou voltar da rua. “Meu maior suporte é o meu irmão José Jardiel que me dá”, afirma a moradora da Massaranduba.

José Jardiel é casado e tem uma filha, mas sempre encontra tempo para ajudar a irmã. Foto: José Bismarck.

Pouco tempo antes, Antônia pagava aluguel de uma outra kitnet nessa mesma vila. No entanto, a proprietária decidiu ampliar o espaço para alugar por um valor mais alto, tornando a kitnet inviável para Antônia que conta apenas com o salário mínimo oferecido pelo Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica da Assistência Social (BPC-Loas) . Apesar de não gostar nem um pouco da ideia, a solução que a mareense encontrou foi retornar para a casa que passou quase toda sua vida: a kitnet de um cômodo comprada pelo seu pai.

“Eu não queria voltar pro mesmo lugar, pra essa mesma kitnet, porque ela está localizada ainda mais nos fundos. Eu fico ainda mais isolada da rua. Se acontecer alguma coisa e eu precisar de um socorro é difícil pra mim, porque ela fica no segundo andar, tem escada, é um lugar inacessível e não deixa de ser perigoso porque se acontecer de eu passar mal e meu irmão ou minha cunhada não estiverem por perto vai ser muito complicado, porque se eu gritar praticamente ninguém vai ouvir”.

Para conseguir chegar até a rua, Antônia precisa que o irmão a carregue no colo. Foto: José Bismarck.

Campanha de arrecadação

Com o sonho de conseguir uma moradia acessível, Antônia criou uma campanha de arrecadação no site vakinha.com.br. Seu objetivo é arrecadar 60 mil, valor que será usado para comprar uma kitnet no térreo e de frente para a rua. Assim, ela terá uma melhor qualidade de vida, além de autonomia, permitindo que entre e saia de sua própria casa sem depender sempre do irmão ou de conhecidos. “Eu também posso vender alguma coisa na porta de casa e com isso aumentar a minha renda, porque eu vivo só com o LOAS. Então assim, é bem complicado viver só com um salário mínimo”.

Acesse a vakinha clicando aqui.

Para ajudar Antônia basta fazer uma doação em qualquer valor. Aqueles que quiserem contribuir com a vakinha online, o valor mínimo permitido pelo site é de R$ 25,00. Aqueles que tiverem vontade de ajudar, mas quiserem doar uma quantia menor, podem fazer uma transferência via pix para a chave 21997438599, conta da Nubank.

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