Oficina de grafite forma mulheres negras na Maré

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Foto: Thaís Cavalcante

Um grupo de mulheres negras tem se reunido no Galpão Bela Maré, na Nova Holanda, para participar do Ciclo Autossustentável de artes urbanas. As oficinas de grafite realizadas nas manhãs de sábado são uma iniciativa do projeto AfroGrafiteiras, que constrói pela cidade uma rede de conexão com o feminismo negro através da arte de rua.

O projeto chega à Maré depois da formação de 30 mulheres negras de diferentes partes do Rio de Janeiro em 2015. As selecionadas tiveram a oportunidade de ministrar aulas de grafite através da Rede Nami e Viviane Laprovita, de 26 anos, foi uma delas. “Escolhi a Maré pela relação que tenho nesses últimos anos com o local e com projetos. Principalmente porque não encontrei iniciativas de grafite. A ideia do núcleo é ensinar além, a gente quer que elas aprendam a gerir e fazer com que a prática se torne um trabalho”, conta.

Viviane é formada em comunicação social, mas atualmente cursa artes visuais. Em paralelo, realiza o projeto VV que aborda a convivência de dois corpos negros, neste caso o dela e do companheiro. “O que me motivou a estar nesse universo é a luta por uma representação e identificação”. Envolvida desde cedo com movimentos de hip hop, sempre se interessou pelo grafite, arte que era percebida por ela e apresentada só por homens. Esse foi mais um motivo para se integrar no movimento.

Primeira aula teórica da oficina. Foto: José Henrique

O respeito à diversidade, a autonomia das mulheres e a independência partidária são alguns dos valores defendidos pela Rede Nami, que acredita no poder feminino como transformação social e por isso cria maneiras de oferecer ferramentas para transformar a realidade de mulheres afrobrasileiras.

No curso, o grafite é mais que uma arte: é uma ferramenta para refletir questões sociais. A oficineira Viviane acredita no potencial de suas ações: “A representatividade é importante pra gente modificar as opressões que a gente vive. Só de estarmos ali na rua como mulher já é uma ação transformadora. Ocupa os espaços, O grafite é importante e comunica qualquer pessoa”, afirma.

Foto: Thaís Cavalcante

Arte fortalecendo a cultura e educação

O projeto AfroGrafiteiras foi pensado para mobilizar a liderança feminina na cultura urbana e valorizar essa arte é transformá-las em artistas. Cerca de 25 mulheres da Maré são beneficiadas na edição atual, entre elas crianças. As aulas teóricas e práticas são realizadas desde outubro e ainda aceitam inscrições.

Uma das discussões em aula foi motivada por uma pergunta: pichação é arte? Mais conhecida como “xarpi” na cultura hip hop, a pichação é um reflexo da identidade e acontece para demarcar o território das pessoas. É como uma marca. “Descriminalizar os processos urbanos também é pensar na livre expressão e na necessidade de cada um de praticar isso”, afirma Viviane Laprovita, que pratica a arte há quase dois anos. O grafite, por outro lado, é protegido pela lei que permite sua prática em espaços públicos, em muros cinzas, por exemplo.

No alto, à esquerda, de laranja, Viviane Laprovita. Foto: Thaís Cavalcante

A aluna Larissa, mais conhecida como Lolly, refletiu sobre o tema: “No meu primeiro dia no curso a aula foi bastante produtiva. Falamos de xarpi, bomb (e seus vários estilos), assinaturas de grafiteiras e silhuetas. E enquanto falávamos, já treinamos algumas formas de escrever esses nomes para treinar na parede na próxima semana.”

O programa de formação gratuito também aborda outros assuntos, como o empoderamento feminino, a cultura afrobrasileira, economia criativa e arte urbana como veículo de comunicação. Oferece todo o material e carteira de identificação,com desconto em papelarias.

O curioso é que o processo de formação é contínuo: as alunas aprendem e já podem compartilhar seu conhecimento. Com a supervisão da Rede Nami, a principal referência voltada para mulheres negras da cidade, as alunas do projeto ensinam em escolas municipais e estaduais.

Confira mais fotos no Facebook do Jornal O Cidadão.

Vídeo da oficina realizada no CIEP Mussum:

Na última aula deste ano, dia 17 de dezembro, os moradores da Maré terão a oportunidade de conhecer de perto o que foi aprendido durante a primeira parte do curso. As alunas farão um mural, ou seja, vão grafitar os muros da Maré para gerar impacto. E claro, para comunicar através da arte.

AfroGrafiteiras é um projeto patrocinado pela Ford Foudation e apoiado pelo Observatório de Favelas.

SERVIÇO
Oficina de grafite para mulheres
Todos os sábados de Janeiro/2017 até Abril/2017
Horário: 10h às 12h
Local: Galpão Bela Maré (Rua Bitencourt Sampaio – Maré, Rio de Janeiro)
Contato: [email protected]
* Inscrições abertas

Matéria publicada originalmente no site http://rioonwatch.org.br/

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