Lucas “Buda” Henrique, o mareense além do jogo

Educação, Notícias

Por Carolina Vaz, com colaboração de Raysa Castro

Foto de capa: arquivo pessoal

Todo ano viralizam vídeos na internet de um professor ou professora no Big Brother Brasil dando ensinamentos. Podem ser ensinamentos de economia, biologia, geografia, ou da vida mesmo. Nesta edição, pela primeira vez, esse professor é mareense: Lucas “Buda”, como está sendo chamado Lucas Henrique Ferreira. Natural da Nova Holanda, o Lucas Capoeira entrou no jogo “aos 45 do segundo tempo”. Ele era um dos 13 candidatos do “Puxadinho” do BBB, e de lá foi escolhido pelos participantes já presentes no programa. A equipe do Jornal O Cidadão conversou com a esposa de Lucas, Camila Moura, e a irmã Carla Cristina para saber mais do mareense que vem se tornando famoso em todo o país, despertando apreço e rejeição como qualquer BBB.

Carla Cristina (à esquerda) e Camila Moura acompanham Lucas no jogo diariamente. Foto: Ana Cristina da Silva.
Prático e pacífico, entre qualidades e defeitos

Com 47 dias de programa, já aconteceu de tudo com o Buda dentro da casa: já foi líder duas vezes, ficou na Xepa e no VIP, foi Anjo, separou briga, corrigiu falas, e foi chamado por uma palavra que colocou o Brasil todo em dúvida. Afinal, o que é “calabreso”? Mas mesmo tendo sido o “alvo” da briga em questão, ele não protagonizou a briga em si, na qual outros discutiram supostamente para protegê-lo. Isso porque ele é o Lucas Buda.

“Você vê que ele é professor porque ele chega e fala ‘olha, não é melhor você falar assim (…) presta atenção, reflete sobre isso’”, afirma a esposa. Para Camila e Carla, ser calmo e racional é justamente o que pode beneficiar e prejudicar o Lucas Henrique no jogo. Segundo elas, o Lucas de “fora de casa” nunca se envolve em briga, é muito pacífico. Para a esposa, o jeito de Lucas pode atrapalhar essas conexões: “Na vida ele resolve tudo racionalmente, mas também acho que é a parte que deixa ele travado em fazer conexões no jogo”. Já a irmã tem medo que o jeito dele o impeça de enxergar as “más amizades” que possam prejudicá-lo.

Lucas transita entre os diferentes grupos do jogo. Imagem: reprodução (Instagram).

Um sonho e as barreiras da internet

“Ele fala com todo mundo! Da pessoa da lojinha de bolo aos flanelinhas, aos garçons dos restaurantes”, conta Camila, relatando um pouco da rotina do Lucas em Bonsucesso, onde moram há 9 meses, e na Maré, onde trabalha. Por isso mesmo, quando ele era candidato ao BBB houve grande torcida da população da Maré, e também por isso toda a sua equipe de assessoria e redes sociais é formada por mareenses voluntários, cerca de 12 pessoas. Não existe uma agência ou contratos de altos valores por trás das redes do Buda: é a galera que ele conhece e que conhecia outros comunicadores que abraçaram o sonho. É esse pessoal que tenta capturar pelo pay per view os momentos mais valiosos do Buda, que não passam no “ao vivo”, e fazer circular na internet. Mas a internet não é tão democrática assim. Camila comenta o esforço que a equipe faz: “A gente não tem recurso para financiar a cara do Lucas em todas as páginas da internet porque ele entrou para conseguir dinheiro para pagar dívida”. Juntos há 15 anos, foi em 2023 que Lucas e Camila conseguiram um empréstimo no banco para financiar uma casa própria. A previsão, na data da compra, foi de levar 30 anos para pagar.

Lucas e Camila estão atrás do principal sonho: quitar a casa financiada em 30 anos. Imagem: reprodução (Instagram).
O jogo de Lucas

Carla e Camila contam que o Buda é um fã do BBB. Já começou a se inscrever em edição passada, mas não foi adiante, e sempre acompanhou no Ao Vivo, pay per view e até em canais no Youtube que comentam o programa. Passava o dia falando sobre BBB com a esposa. Mas desta vez é ele quem está lá dentro, sem poder ver e saber de tudo que acontece, e ao mesmo tempo tendo que se posicionar, formar suas alianças e se defender.

Uma das características do Lucas no BBB é aproveitar as festas até o final. Foto: reprodução (Instagram).

No dia 08/02 o Lucas pegou sua segunda liderança, o que lhe deu o poder – e responsabilidade – de escolher pessoas para o VIP e também escolher “alvos” para o paredão, entre eles o que vem se destacando aqui fora, o Davi. Mas ele não sabe disso. Apesar de todos os momentos de gentileza, ensinamentos e as “aulas” de capoeira, a fama negativa que o Lucas vem ganhando aqui fora é de “fofoqueiro”, por falar com todo mundo, e puxa-saco de famosos, por ter amizade com camarotes como Yasmin Brunet e Wanessa Camargo. Infelizmente, as críticas chegam à família, na qual se misturam os sentimentos de querer protegê-lo e sustentar o orgulho que sentem por ele. Tanto irmã quanto esposa já tiveram até problemas de saúde, como crises de ansiedade, acompanhando o Lucas no jogo.

Lucas Buda é professor de Capoeira há 10 anos, ensinando de crianças pequenas a adultos. Foto: arquivo pessoal.

“Com certeza tenho orgulho. Todas as vezes que ele teve oportunidade de ensinar algo ele ensinou”.

Camila Moura, esposa do Lucas Henrique

Passado e futuro do Buda

Foi na estreita rua Jardim América que o Lucas cresceu com a mãe, o pai, a irmã Carla e o irmão Ademar. Tanto mãe quanto irmão, hoje já falecidos, se dedicaram muito para que o Buda pudesse estudar. Sempre foi pacífico, sociável e educado, e foi na Maré que ele começou no esporte que ama, a capoeira. Tornou-se professor em projetos de capoeira na Maré, formando alunos como o Cayo Cacareco, cuja história mostramos recentemente.

Uma das fotos da infância do Lucas. Foto: arquivo pessoal.

Antes de entrar no programa, era professor de escola pública, atuava no Luta Pela Paz levando a metodologia para outros estados e também, voluntariamente, dava aulas de capoeira a valor social no campus do Fundão da UFRJ, onde cursa mestrado em Educação. Graduado em Educação Física, ele também tem especialização em Relações Étnico-raciais. Desde antes de sua entrada no programa, quando era candidato, falava sobre seu trabalho de educador na Maré, mostrando o orgulho pelo lugar de origem. E, lá dentro, continuou falando sobre os projetos e potências da favela.

A irmã e a esposa na rua onde Lucas cresceu. Foto: Ana Cristina da Silva.

“O meu irmão morou aqui, trabalha aqui e fez questão de ensinar e trabalhar aqui porque ele tem esse orgulho”.

Carla Cristina, irmã

Por isso, seja qual for o jogo que o Lucas vai fazer no programa, a família acredita que ele não vai deixar de falar da Maré, exaltar o bairro e levar para toda a sua audiência o que a Maré tem de bom.

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