Troca um café por uma palavrinha sobre a Maré?

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Foto por Cufa Maranhão
Foto por Cufa Maranhão

Jamie – O que é o Movimento Cidades (in)Visíveis? Que relação tem com a Maré? 

Ítala – O Movimento Cidades (in)Visíveis surgiu como uma forma de resistência às mazelas do cotidiano através de performances, intervenções e outras ações artísticas. Com o tempo, transformou-se numa oportunidade de criar no limite entre arte e política: grafitar, dançar, conversar, tudo pode virar arte. No fundo, é minha maneira de amar essa cidade. Esse amor eu aprendi na prática, convivendo com moradores de bairros como a Maré. De fato, na Maré conquistei uma profunda formação política, como professora de desenho, dando aula em escolas na Nova Holanda, Vila Pinheiro, Baixa do Sapateiro, e outras. Convivi com a dor e a alegria de quem tem essa história de plantar seu direito à cidade dia-a-dia.  

Jamie – Qual é a ação artística que o Movimento Cidades (in)Visíveis trará para Maré? 

Ítala – A ação chama-se “Troco refresco/café por uma palavra sobre a cidade”. Dois artistas saem pelas ruas com aventais trocando café ou refresco por uma palavrinha sobre o bairro. O comentário é registrado com um gravador e passa por uma edição para virar poesia sonora. Depois a gente vai mostrar esse trabalho para os moradores em espaços culturais na Maré.  

Jamie – Você já fez essa ação em outros lugares? Teve algum tema? 

Ítala – Fizemos essa ação no bairro da Lapa, em três horários diferentes, pela manhã, à tarde e a noite. Colhemos cerca de setenta comentários. Depois, fizemos também durante o Ocupa Lapa, movimento de ocupação artística que já tá na sua quarta edição, realizado por moradores, frequentadores e trabalhadores da área artística da Lapa. Na ocasião, nos interessou escutar sobre o programa “Lapa Presente”, implementado pelo Governo do Estado com o intuito de diminuir a violência no local. Queríamos saber qual era a visão dos moradores e frequentadores da Lapa sobre um programa que não ouviu essa população. Procuramos vozes que tradicionalmente ficam invisíveis, como a da população de rua, travestis, camelôs, etc. Pode ter certeza que tiveram muito o que falar.

Jamie – E na Maré, o que interessa? 

Ítala – Trabalhei cinco anos na Maré, mas reconheço que mudou muito. Aliás, a cidade inteira mudou muito. Uma questão que me interessa é a maneira como os moradores em situação de rua convivem com o bairro. Como veem o lugar. Como são vistos pelos moradores mais antigos.  

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